sexta-feira, 28 de março de 2008

Post especial de Páscoa Nº2: “perdoa-os Pai, pois não sabem o que fazem”

-clique para ampliar-


Se você atentar para as mídias no período da páscoa, vai notar que apesar de uma ou outra reportagem sobre chocolate e coelhos, a maior parte delas foca o lado religioso da coisa. É missa pra cá, filme bíblico para lá, reportagem tosca acolá... porém, o que pouca gente percebe são as incongruências e tosquisses presentes nessas abordagens. Assim sendo, esse artigo visa comentar as coisas mais toscas que esse humilde escrevinhador já teve o (des)prazer de averiguar!!
Introdução (ui!)
Sou agnóstico. Essa é minha postura perante a religião. Respeito e convivo bem com a fé alheia, mas sou essencialmente um cético, um “duvidador”, um cientista (e nerd). Apesar disso, o que me impede realmente de freqüentar qualquer religião que seja não é minha crença (ou não) em uma divindade superior...
O que realmente provoca meu desinteresse por freqüentar algum “culto” são dois motivos simples: 1- A maioria dos cristãos nunca sequer leram a bíblia (quem dirá entender o que tá escrito); e 2- Os cristãos em geral são hipócritas com relação a própria fé, sendo em suas atitudes bem pouco (errr...) cristãos.
Sendo assim, como vivo explicando teologia pra cristão (!!) e a maioria deles é tão (ou mais) feladaputa quanto o resto da humanidade, não sinto ímpeto nenhum em fazer parte de alguma “comunidade fraternal de amor ao próximo” (muito “amooorrrr” ¬¬).
Apesar disso, esse texto não terá um foco “ateísta”. Ao analisar os eventos abaixo, vou julga-los por fatores simples como “tosquisse”, erro histórico e erro de interpretação. Se você for um religioso não-fanático, aposto que vai concordar com a maioria das minhas argumentações (apesar do meu senso de humor meio corrosivo...:-P).
A Paixão de Gibson
A paixão de cristo é provavelmente a adaptação sobre a vida (ou seria morte? :-P) de Jesus que alcançou maior visibilidade. Infelizmente, é provavelmente a pior delas.
O filme ganhou fama de ser “historicamente verossímil”. Nada mais longe da verdade... o filme esta longe de ser até mesmo “biblicamente” verossímil!! Com exceção de cenários muito bem reproduzidos, um figurino competente e o fato dos personagens falarem na linguagem da época (latim, hebraico e aramaico); todo o resto do filme tem a consistência histórica-biblica de um pudim.
Seria a culpa então de Mel Gibson? Sim e não...
Vamos aos fatos: Gibson é um Católico ultra-conservador, e seu filme retrata a visão de... um católico ultra-conservador! Não é exatamente culpa dele se o publico encarou sua visão dos fatos como “precisa” (ele apenas tava sendo fiel a própria concepção de fé – que diga-se de passagem, é uma merda).
Embora o filme se diga baseado nos “evangelhos”, sua base real é outra: arte sacra. Como todo católico, Gibson não é muito amigo da leitura; ao mesmo tempo, a maioria das Igrejas católicas são ricamente ornamentadas com pinturas que retratam a “paixão” (e esse costuma ser o primeiro contato dos pequenos católicos com a historia de cristo). Essas pinturas tem sua origem na idade média, e servia ao propósito simples de servir de “infografico” para a população iletrada. Como os católicos geralmente só pegam na bíblia pra pedir milagre, a maioria nunca supera essa visão simplista da história de cristo - e Gibson não é exceção. A visão de Gibson é exatamente essa: a de um católico médio. Seu filme nada mais é do que a versão live action das pinturas que ornamentam igrejas!! Mas este esta longe de ser o problema principal de “A Paixão”...
Se fosse apenas mais um filmeco pra gente iletrada conhecer a história de Cristo, ainda assim “A Paixão” teria seus méritos. Mas seus defeitos são mais profundos: Gibson se acha no direito de alterar os “evangelhos”; abusar do maniqueísmo e reduzir a importância da vida de um homem a apenas um momento (sua própria morte). Todas essas características aparecerão nos itens listados abaixo:
“Abuso policial”: Jesus é traído por Judas e entregue aos soldados do Sinédrio. Ao passarem por uma ponte, os soldados aproveitam pra jogar Jesus (que estava acorrentado) lá embaixo. Pouco depois, eles pescam Jesus de novo pra cima.
Essa cena é ridícula em todos os sentidos possíveis. Alem de não existir leve menção a maus tratos por parte dos soldados judeus nos evangelhos (até mesmo no de João, que é claramente anti-semita, não há uma linha sequer sobre isso), tal cena é inverossímil por outros fatores: Se imagine no lugar dos soldados (se quiser, faça a relação com seu equivalente moderno: um policial). O teu chefe te acorda de madrugada pra pegar um cara qualquer e entregar pra ele. Você vai lá, cortam a orelha de um colega seu, mas o cara que tu foi prender cura ela milagrosamente. Resumindo: você esta com um puta dum sono e seu prisioneiro nem oferece resistência (pelo contrario, a proíbe). Porque diabos você perderia tempo aporrinhando ele?? Não seria muito mais vantajoso apenas entregar ele logo pro teu chefe e ir dormir??! E porque você jogaria o cara duma ponte? O prisioneiro ainda ia ser julgado e poderia morrer com a queda (não foram uns cola brincos do Capitão Nascimento, e sim uma queda de vários metros). Você arriscaria ser castigado (ou morto) pelo patrão apenas em nome da “diversão brucutu”??
“Pede pra sair”: A narrativas sobre o suplicio de Cristo são bem curtas na Bíblia (provavelmente porque não era muito importante para os evangelistas tal relato). “A Paixão”, por sua vez, dedica quase duas horas a mostrar toda a porrada que Jesus levou. Dessas a cena mais marcante é a do açoitamento. Gibson conta uma a uma as chibatadas que um prisioneiro deveria levar, e as mostra com detalhismo imenso. Manuseando o chicote, um Romano “Gordim” parece estar comendo a Juliana Paes de tão feliz...
O intuito dessa cena é ser grotesca mesmo. Quanto ao chicoteamento, salvo exageros masoquistas, não há nada de mais na cena. Era isso mesmo que acontecia. O problema é o soldado. Se imagine no lugar do Soldado (já viu Roma? Imagine alguém como Vorenus): você teve que ir praquela droga de Palestina porque é páscoa e as chances de uma rebelião é grande. Cê deixou tua família em casa, o lugar é perigoso, e ao contrário de campanhas de conquista, a única coisa que vai receber por isso é o soldo normal. Você é soldado porque seu sonho era matar e espancar gente? Talvez. Mas talvez você seja soldado porque era a única coisa que você poderia fazer...
É possível que a porra do soldado incumbido do chicoteamento fosse um “psicopata” (quem pode dizer com certeza?). Mas as chances dele ser só um cara normal são muito maiores. Veja muitas das pessoas que ajudaram direta e indiretamente Hitler em sua política de extermínio aos judeus e você contastará que a imensa maioria deles eram pessoas comuns. É o que a teórica política Hannah Arendt postulou na sua tese sobre a “banalidade do mal”: pessoas comuns são capazes de coisas terríveis, desde que sejam “padrões sociais”. E quer saber? Eu acho muito mais assustador uma pessoa que pratica algo ruim por comodidade do que uma que pratica por prazer (este pelo menos tem a desculpa de ser um “doente”). Se o soldado se comportasse como um cara normal fazendo um trabalho terrivel, pelo menos a cena serviria como reflexão sobre nossa passividade em relação a coisas cruéis. Mas do jeito que foi mostrado, só serviu ao maniqueísmo típico de hollywood (e das religiões em geral).
“Xô Satanás!!”: Durante todo o suplicio de Jesus, uma figura andrógena e enigmática acompanhava todo o processo, parecendo se divertir muito. É o tinhoso em pessoa.
Por que diabos o capeta (sim, péssimo trocadilho :-P) iria se divertir com a morte de Jesus sendo que isso seria um tremendo prejuízo pra ele?? Se a morte de Jesus significa uma nova aliança onde nosso pecado original foi lavado, isso não deveria ser motivo de preocupação pro capeta? Quando Cristo “vence a morte” não é a mesma coisa que dizer para Satã “Chupa Mané”? Não na cabecinha de Mel Gibson...
“Se eu pudesse eu matava mil!!”: Pilatos pergunta aos “Judeus” se eles preferem que seja solto Jesus ou Barrabás (que parece uma mistura do “Mendigo do Show do Tom” com o “Jeremias”). O povo vota por libertar Jere... ops, Barrabás.
Vamos a alguns fatos históricos: a crucificação era a pena romana para rebeldia política e Jesus ia ser crucificado como possível rebelde. Barrábas também ia ser crucificado, logo era algum tipo de rebelde (provavelmente um Zelota ou Siccari).
Assim sendo, Barrabás dificilmente pareceria o “vilão de desenho animado” que o filme mostrou. Ele seria mais parecido com algum tipo de líder carismático, e não com um Bebum. Ele dificilmente daria risadinhas ao ser escolhido pelo povo, mas sim manteria uma postura de “um dia mato esses romanos”.
E por que o povo escolheu Barrabás? O Messias que os Judeus esperavam era um messias guerreiro (assim como Davi fora outrora), alguém que libertasse seu povo do jugo romano (e não alguém que trouxesse uma “nova aliança”). Quando chega a Jerusalém, Jesus dá claros indícios que seria o “estilo Davi” de messias: ataca os mercadores do templo e avisa que vai destruí-lo (tal ato é extremamente forte simbolicamente, já que os Fariseus exploravam a população juntamente com Roma).O povão “delira” com a possibilidade de alguém finalmente chutar o rabo dos invasores romanos e da corja que os apóia. Por sua vez, Jesus em seguida faz......... nada
O povo tava “no maior gás” imaginando que Cristo ia “quebrar o pau”, imagina quando eles vêem seu possível messias porradeiro entregue aos romanos (e sem resistência)?? Que tipo de messias é esse que aceita ser humilhado e não resiste?? Cadê a porrada?? Vendo que Jesus não era o tipo de messias que esperavam, o povão preferiu o bom e velho Barrabás (que pelo menos matou uns romanos, ora pois!).
Novamente, Gibson perdeu uma bela chance de refletir sobre a tendência humana para a violência. A mudança que Jesus propunha era moral (e não de estado). Não era uma questão de subjugar Roma, mas de criar uma sociedade mais tolerante (“dê a outra face”). Se mostrasse Barrabás como realmente era (alguém que usa da violência na tentativa de criar um mundo mais justo), Gibson teria uma ótima metáfora sobre a tendência humana a resolver tudo pela força. Seria mais ou menos como dizer “as pessoas sempre preferem o caminho da violência ao da tolerância”...
Mas nããããoooo... Gibson preferiu criar uma cena clichê onde os “judeus” parecem se divertir ao libertarem um porra-louca no lugar de um pacifista. Parabéns Gibson!! De certa forma você criou uma ótima metáfora sobre maniqueísmo e ódio gratuito (seu filme como um todo)...
“Toma no zóio, ímpio da porra!!”: Jesus esta sendo crucificado junto a dois transgressores. Um deles acredita que ele é o messias, e recebe a promessa da vida eterna. O outro escarnece dele, e um corvo lhe arranca os olhos.
Você já notou como nos filmes todo vilão geralmente morre? Eles não são presos nem nada, apenas morrem (porque o “mocinho” os mata ou porque eles tropeçam em algo :-P). essa cena descrita acima mostra com perfeição esse tipo de clichê: nos evangelhos, a cena se resume a um “salteador” que duvida do “messias” e outro que o aceita. Só. Nada mais. Nothing more. Necas.
Então por que Gibson resolveu colocar a porra de um corvo ali? Primeiro o velho clichê cinematográfico que de que o “mal” sempre tem que se ferrar (apesar do cara já estar bem ferrado). Segundo, porque Gibson é um retardado que acha que Jesus concordaria com punir um “ímpio” a beira da morte. De amargar...
Bem, era basicamente isso... Alguns outros pontos pertinentes sobre a visão de Gibson serão comentados nos outros tópicos, então não vejo porque trata-los especificamente aqui. Mas fica a lição: “A Paixão” é um filmeco sado-masoquista feito por um Católico fanático que nunca leu a bíblia – tenha isso em mente se for assistir O_o.

Sinta o amor de Jesus no coração – ou morra :-P
Vocês se lembram do meu post sobre Agnaldo Timóteo? Esse fato que narrarei ocorreu no mesmo programa que eu comentei.
Como todos sabem, Agnaldo adora “pagar de crente”. Ao ser questionado no “Nada Além da Verdade” sobre sua opinião sobre a pena de morte, ele respondeu que era a favor. Nada contra. Eu também sou a favor em muitos casos. O problema é que o fulano se alega “cristão”...
Para piorar o fato, Silvio Santos perguntou a uma das pessoas que o acompanhava (acho que era irmão dele, sei lá...) o que achava da resposta de Agnaldo... e o cara, como bom “cristão” (¬¬) respondeu: concordo. Jesus disse “ame o próximo como a ti mesmo”, mas também disse que “quem com ferro fere, com ferro será ferido”. (NOTA: ele poderia ter citado uma das “trocentas” argumentações pró-violência do Antigo Testamento. Mas preferiu colocar Jesus no meio do rolo...)
Analisemos então toda a babaquice envolvida na resposta do asno:
Vamos aos fatos: Jesus não era necessariamente uma pessoa “boazinha”. Ele ameaçou muita gente de queimar no “Hades”. Embora eu faça uma leitura metafórica sobre esse “Hades” (um dia explico melhor), se for considerado literalmente, a postura de Jesus seria algo como “respeito sua vida, mas você vai pro inferno depois mané”. Apesar disso (ameaçar tormento eterno), Jesus nunca (eu disse NUNCA) estimulou a agressão física contra ninguém (quem dirá insinuações pró pena de morte). Pode-se argumentar que ele expulsou os comerciantes do templo a força, mas isso não significa que ele pegou seu grupinho de seguidores e espancou os caras (provavelmente o que ele fez de fato foi quebrar gaiolas, chutar as mesinhas, espalhar as moedas etc - coisa bem mais amena que pegar eles de soco ou matar eles).
A coisa fica ainda pior se levarmos em conta o contexto da frase que o trouxa usou na sua justificativa. O momento em que Jesus proferiu essa frase foi logo depois de curar a orelha do soldado (que Pedro arrancou). A frase foi dita ao apostolo como repreensão pela sua atitude violenta. Basicamente, o que ela significa é “se você viver em violência, um dia essa violência se voltará contra você”. Só que na interpretação do otário, ela significaria mais ou menos isso: “toda pessoa violenta deve morrer, pena que Pedro é tão ruim de mira e não cortou a cabeça dele...”. Perceberam a diferença??
Se a frase de Jesus aponta a conseqüência das pessoas que vivem “pela espada”, a versão corrompida justifica esse tipo de vida: pode-se e deve-se matar pessoas “que merecem”. Se esse cara tivesse vivo na época de Jesus, provavelmente seria mais um na multidão a gritar “Barrabás, Barrabás!!”.
E fiquemos com mais uma lição: Ao contrario dos Católicos, os evangélicos lêem a bíblia – pena que não entendem porra nenhuma.

Repórter Record: Recorde de idiotice (sim, isso é um trocadilho infame)
Todos sabem que a Record é o canal do “bispo”. Apesar disso, sua programação nunca fez muita questão de ser focada em uma conduta cristã. A Record é essencialmente um canal que pertence uma religião, e não um canal pra falar de religião. Apesar desse lado mais secular, é impossível não notar a influencia dos “donos” em algumas ocasiões.
Não se contentando em exibir (pela bilionésima vez) filmes bíblicos da década de 1970, nessa páscoa a Record resolveu por ela mesma a mão na massa. E o resultado foi uma titica...
O tema da reportagem foi basicamente o seguinte: nos vamos até o monte Ararat, o lugar onde a arca de noé desceu após o dilúvio!! Será que descobriremos destroços da Arca??
Mas onde estão os fatores que tornam tal fato ridículo? Se fossemos levar pelo caráter mais secular, o assunto tratado já seria ridículo. A maioria dos Judeus e teólogos cristãos moderados consideram o fenômeno descrito na Bíblia (a inundação do mundo todo) apenas simbólico, ou quando muito, a interpretação limitada do povo que escreveu a historia sobre um fenômeno local (ou seja, houve um dilúvio, mas não “universal”).
Mas a reportagem também ousa ir por caminhos (ainda) mais ridículos... notou como eles afirmam com convicção que o referido monte é com certeza o monte onde a arca desceu? Pois bem, isso nunca foi certeza para ninguém. Não existe referencia ao nome do monte na Bíblia, apenas a região (Ararate, na Armênia). A possibilidade de ter sido o Monte Ararat em especifico é apenas especulação (cujos argumentos têm pouca consistência cientifica).
Num dos momentos mais “sublimes” da reportagem, o repórter que escalou o monte reclama do frio extremo (o topo é congelado) e diz: “como será que Noé e sua família conseguiram enfrentar essas adversidades?”. Se eu estivesse lá, diria a meu colega “sofista” isso: “muito provavelmente porque (caso tenha havido mesmo um dilúvio) não foi nessa porcaria de monte íngreme e inóspito que Noé desceu ¬¬”. O pior mesmo dessa reportagem não foi o foco bíblico (dá pra se falar sim de assuntos biblicos sem cair no ridículo), mas a tentativa podre de fazer os telespectadores deliberadamente de idiotas. O motivo que aparentemente levou a produção de tal programa não foi a fé no eventos tratados, mas os pontos no Ibope garantidos por gente simples – alias, enganar gente simples parece ser é um dos talentos mais desenvolvidos de Edir Macedo O_o.

"Ciência Cristã"
Existe um documentário realizado pela BBC chamado “Jesus, o filho de Deus”. Foi produzido há um bom tempo atrás (é nele que aparece a polemica reconstituição do possível rosto de Cristo); e lançada depois pela abril em DVD. Apesar de ter um foco excessivamente teísta (nunca se leva em conta a possível infidelidade dos evangelhos em relação aos fatos, ou mesmo se menciona os apócrifos), é um bom documentário (reproduções cênicas impressionantes e boa abordagem para leigos). Ainda assim, teve um trecho que seria hilário se não fosse tão bizarro...
A crucificação é um mistério para historiadores modernos. Faltam documentos descritivos, ossadas das vitimas, e desenhos que a representassem (os desenhos que ornamentam igrejas são de uma época onde tal pena capital já estava extinta). Apesar disso, alguns pesquisadores sérios tentam desvendar os detalhes obscuros de como realmente seria uma crucificação no séc. I. Um dos poucos consensos nessa área, é que se realmente fora pregado na cruz (a maioria dos condenados era amarrado), o local onde iria tal prego seria o pulso (já que os tendões e músculos das mãos romperiam com o peso do corpo). Porém...
...O documentário mostrou um “véinho” cuja ambição era provar que Jesus poderia também ser pregado pelas mãos. Para tanto, ele realizara algumas experiências práticas: uma “cobaia” vestia uma luva especial (tal luva prendia apenas a área da mão), depois, o mané era pendurado em uma replica de cruz pelas “luvas”, e logo em seguida, tinha seus pés apoiados num “calço” da cruz. A conclusão em que ele chegou era que realmente o peso do corpo arrebentaria a mão do mané depois de poucos minutos, mas que ao ter seus pés firmados (ou pregados, se fosse há 2 mil anos atrás :-P), a pressão sobre as mãos cairia consideravelmente, tornando possível que os romanos prendessem crucificados pelas mãos.
Agora veremos todos os pormenores de “ridicularidade” envolvidos nas idéias do “véio”: 1- As imagens que retratam a crucificação de Cristo são da idade média. Quem começou a pintá-las não fazia a mínima idéia de como era uma crucificação de verdade, já que no inicio do cristianismo ninguém tava muito preocupado em retratar a morte de Jesus. Sendo assim, não são documentos históricos minimamente confiáveis. 2- o peso do corpo se alivia apenas depois da fixação dos pés. Se demorar muito, a possibilidade de romper a mão do crucificado é imensa. Por que os romanos se dariam ao trabalho de pregar alguém pelas mãos se a coisa podia dar merda tão facilmente?? Não seria mais esperto prender logo o cara pelo pulso (que agüenta o peso do corpo) do arriscar que o mesmo possa cair a qualquer momento?? 3- não bastassem esses “detalhes”, a experiência do cara tem erros simples de metodologia cientifica. Para realizar sua experiência, é obvio que ele não pregou ninguém (ainda bem). Mas os problemas de se crucificar alguém pelas mãos está além da resistência da mão como um todo (que é o que a luva do véio testa), mas sim da resistência dos músculos de uma pequena área!! Olhe para a sua mão... agora imagine um pregão atravessando o meio dela (entre o “seu vizinho” e o “pai de todos” :-P). agora imagine os 3cm de músculo xexelento que sobrou na parte superior da sua mão agüentando 50% do seu peso corpóreo. A menos que você seja bem burro, acho que deu pra entender que é impossível que esse pequeno trecho muscular agüente tanto peso (mesmo pelo curto período necessário para se “erguer” o crucificado).
Então por que esse véio dedica seu tempo e dinheiro nessas pesquisas furadas e sem noção? Ora, provavelmente porque é um católicozinho que cresceu vendo pinturas nas paredes da missa!! Não interessa verossimilhança histórica, ele quer é “provar” que as pinturas medievais tem “procedência”... Se esse não for motivo mais ridículo para alguém pesquisar algo, eu nem quero saber qual é!! O_o.
“Ilumina Jesus, porquê a coisa tá braba...”
Enquanto zapeava pelos canais de TV no período pascoal, me deparei com a apresentação de uma missa católica (não lembro o canal especifico, já que existem no mínimo três - !!!!). Na referida missa, uma velhinha dizia malomenos isso no sermão : “da mesma forma como quando Jesus pediu água aos romanos, e lhe deram vinagre; nós, com nossos pecados e negligencia continuamos a dar vinagre ao senhor”. Qual seria o erro grotesco nessa frase?
Bem, o erro é que a velhinha cometeu um equivoco histórico terrível (e bem comum): a de que o soldado tava sendo sacana com Jesus!! Na verdade, o soldado deu exatamente o que Jesus pediu, já que os romanos misturavam vinagre à água para dar a suas tropas (por motivos de higiene – vinagre é um dos mais antigos e eficientes desinfetantes). Por esse ponto, o coitado do soldado tava até sendo legal... e sem querer querendo, a pobre beata disse que pecar e negligenciar Jesus é algo positivo :-P.
“vendilhões do templo...”
Quando eu ainda estava na faculdade, fiquei bastante amigo de um pastor evangélico (que era bem gente fina). Como o cara era cabeça aberta, a gente discutia muito religião. Certa vez, ele me emprestou o livro “Analise da Inteligência de Cristo – o mestre dos mestres”, que havia comprado recentemente (e nem tinha lido ainda).
Na introdução o autor (Augusto Cury) se apresenta como um “psicólogo agnóstico” e diz que seu livro é “laico” (¬¬). Eu fui lendo maximo que pude, até que cheguei num trecho memorável de tão ruim: a intenção do livro era provar a imensa capacidade de Jesus como líder e companheiro. Para isso, ele menciona o trecho do evangelho de João em que Pedro ouve o galo cantar (após ele ter negado Jesus três vezes), e Cristo o fita com olhos firmes nesse momento. Cury afirma que tal fato é mais verossímil que o narrado nos outros evangelhos, já que “João foi o ultimo a escrever sua versão, e questionou Pedro já velhinho sobre os eventos daquela noite. E na flor da sua idade, Pedro se lembrou desse detalhe que antes passará batido nas outras versões. E como jesus era bonzinho, mesmo estando em situação tão terrível, ele deu um olhar de conforto ao seu amigo”.
Um Sonho de Valsa para quem perceber as duas babaquices imensas que Cury preferiu nessas frases!!
Dou-lhe uma...
Dou-lhe duas...
Dou-lhe três...
Nada?? Nadica mesmo?? Mesmo-Mesmo???
Tá bom vai, eu respondo: a primeira idiotice é a idéia que os evangelhos foram diretamente escritos pelos apóstolos do qual levam o nome. É praticamente consenso histórico-teologico que foram escritos pelos seguidores desses apóstolos, e não pelos próprios....
Mas esse primeiro erro é até passível de “relativização”, já que pressupõe uma interpretação teológica equivocada (coisa muito comum)... o segundo erro que é grotesco, já que mostra que Cury nem sabe interpretar texto!!
O segundo erro é pressupor que o olhar que Jesus possivelmente deu para Pedro era de conforto. Se vocês voltarem um pouco atrás na bíblia, vai ver que quando Pedro tenta “dar uma de gostoso” pra cima de cristo dizendo que “nunca o abandonaria”, Jesus lhe dá uma tremenda “tirada” dizendo: “antes do galo cantar, você me negará três vezes”.
É obvio que o bendito olhar que Jesus dirige a “Pedrão” significa “eu te avisei” - e não “fica sussa mermão”!! Como Cury já mostrou que não sabia ler logo no começo do livro, eu nem me dei ao trabalho de me aventurar pelo resto...

“Os animaizinhos, subiram de dois em dois!!”
Já que eu mencionei o bendito galo que canta “para Pedro”, eu não poderia deixar de citar uma das coisas mais bizarras que eu já vi na vida: um programa televisivo chamado “Criaturas Bíblicas”. Tal programa apareceu um dia desses no “TV Escola” (canal, em geral, com programas interessantes). Mas do que trataria esse programa?
Bem, em cada programa, é focado algum animal coadjuvante da Bíblia. O que eu vi envolvia o Galo que cantou pro Pedrim. Se o conceito geral do programa já parece ser uma coisa bem bizarra, a execução de tal idéia foi digna da pior overdose possível usando-se todas as drogas conhecidas pela humanidade: a introdução do programa é feita por uma mulher vestida ao estilo renascentista; a história em si é “animada” de um jeito tão bizarro que eu nem consigo descrever (é serio, é ver para crer); Jesus esta num bar (isso mesmo: um bar. Buteco, birosca, quiçaça etc) realizando a Santa Ceia (o galo tá com as galinhas embaixo O_o); todos os personagens se vestem com roupas estilo anos 70 (me lembrou Hermes e Renato); judas entrega jesus, que é pego pela polícia (é. POLÍCIA!! Os homi. Os gambé. A puliça O_o); Pedro nega conhecer jesus ao ser questionado pelos outros freqüentadores do "buteco" e o bendito galo canta; o galo é testemunha posterior da ressurreição de Jesus (a policia que matou ele?? Seria Capitão Nascimento naquele camburão? Óh, duvidas cruéis!!).
...
Perceberam o nível da coisa?? E eu que imaginava que o cristianismo condenava o uso de entorpecentes...
E por que nosso estado “laico” (sei, sei...) passa uma porcaria dessas?? Que cartão corporativo que nada, temos é que fazer uma CPI pra descobrir como alguém tem coragem de passar um troço desses na TV!! O troço é tão ruim que pode servir pro ecumênismo: budistas, hinduístas, cristãos, judeus, muçulmanos e ateus deviam se unir pra tirar isso do ar - os danos cerebrais nas crianças podem ser irreversíveis!!! :-P
Apenas pra finalizar...
Aqui encerro minha pequena coletânea de comentários sarcásticos acerca de obras religiosas toscas. Eu ia falar um pouco mais do assunto nesse post (o habito “cristão” de malhar judas”, frases clichês ditas pelo povão etc ), mas este texto já está muito extenso para eu tratar de tais temas aqui (fica para a próxima ocasião).
Por ultimo, dedico esse texto aos meus amigos que professam alguma religião (incluindo aqui o pastor, dois padres, e um seminarista): vocês sabem que apesar do meu humor cruel eu sou um bom samaritano!! Shalom!!
NOTAS ADICIONAIS:
1- Alguns dos clichês mais batidos de filmes bíblicos: Judas com perfil físico e psicológico do Dick Vigarista, Barrabás como um doidão, Maria Madalena como super-sexy, Jesus como um boneco de cera (quase inexpressivo) etc.

2- Eu fui ácido ao me referir a católicos e evangélicos, mas tais expressões não tem o intuito de servir como preconceito religioso. Foram usadas apenas em nome do humor. Se ainda assim você se sentiu ofendido, lembre-se que o bom cristão sempre perdoa os inimigos :-P.

3- Se quiserem saber um pouco mais sobre o Jesus histórico, acessem o site da super e vejam as matérias que já saiu sobre isso. Para um entendimento mais profundo, adquira um livro sobre o tema (mas ler a Bíblia já seria um ótimo começo)

4- Sobre o fato dos romanos terem sorteado a túnica de Jesus entre eles, isso não é nada cruel ou anormal (no ponto de vista da época): estavam apenas exercendo o direito de pegar espólios.

5- As citações aos filmes, reportagens, a bíblia e ao livro de Cury são “citações livres”: reproduzem o ponto de vista do autor, e não suas palavras exatas.
6- Apesar da tosquice do livro de Cury, ele vendeu muito bem e garantiu continuações (em um mundo onde “O Segredo” é Best-seller, isso nem é tão assustador :-P)

7- Meu lado maldoso gostaria de ver um “Criaturas Bíblicas” envolvendo um bode (ou um pombo) em “levítico” :-P
8- Sobre os maus tratos que os soldados infligiram a Jesus (coroa de espinhos, zombaria), não se esqueçam que isso foi depois que a sentença final foi dada por Pilatos.
9- tem gente que consegue ser pior que o tiozinho que tenta provar a crucificação pela mão...

terça-feira, 25 de março de 2008

Post especial de páscoa nº1: malditos coelhos capitalistas!!

"acredite, essa imagem representa bem esse artigo :-P"


Ahhh... a páscoa... originalmente um feriado religioso judaico (comemorava a fuga do Egito), foi transformado posteriormente em feriado religioso cristão. Hoje em dia ninguém liga muito pro lado cristão da coisa (e muito menos pro lado judaico :P), e o feriado se tornou mais um dia do ano pra gastar dinheiro com porcaria e agüentar priminhos chatos...

“Má perae porra? Como foi que apareceu um coelho nessa historia? Porque essa merda de feriado religioso acabou se tornando mais um feriado “capitalista”? capitalismo!!! Caralho então você vai falar do velhinho barbudo (não Papai Noel, mas Marx)?? Arrggghhhhh!! To ficando zonzo...”

Palma, palma amiguinhos... não entrem em cânico...vocês vão descobrir isso e muito mais no nosso (sim, tenho múltiplas personalidades :-P)... tham tham tharammmm... post especial de páscoa (nº1)!!!

Sobre coelhos, ovos e chocolates (nham, nham)

Tô com pressa, então vou explicar rápido e rasteiro: tanto a páscoa judaica quanto a cristã simbolizavam principalmente a esperança de uma vida nova. E quer melhor símbolo de vida nova do que algo que representa fertilidade?? Você deve saber que os coelhos são notórios fornicadores e fazedores de filho; e também deve saber que ovos são apenas óvulos (fecundados ou não) recobertos com uma camada de cálcio. Assim sendo, tanto coelhos como huevos representam muito bem a esperança de uma vida nova...
Mas como as coisas se misturaram (coelho + ovo)?? Bem, sei lá eu :P... imagino que ambas as tradições tenham corrido em paralelo por muitos séculos, até se misturarem completamente no decorrer do século XIX ou XX...
Má onde entra o chocolate? Bem, era um costume presentear os amigos e crianças na páscoa com ovos (de galinha mesmo) decorados e “enviadados”. No começo do séc. XIX, algum capitalista safado e esperto achou que era boa idéia fazer ovos de chocolate pros outros darem de presente na páscoa... e a coisa foi evoluindo até se tornar essa putária que é hoje...
É, é só isso (Falei que ia ser rápido e rasteiro, não adianta reclamar). Agora vamos falar de “capetalismo”!!


A maldição intelectualóide

Vou contar pra vocês qual o principal defeito dos marxistas (não, não é falta de banho): eles odeiam ser claros!! Sim, eles parecem adorar a “linguagem empostada” (acabei de criar um neologismo – eba!!) e cheia de firúlas que não vão a lugar nenhum. Até mesmo Gramsci, que fala tanto em “intelectual orgânico” (um intelectual que age junto ao “povão”, e que pra isso, fala a “língua” do “povão”) escreve de um jeito pouco inteligível para o leitor médio (imagina para o abaixo da média?)...
De fato, é extremamente penoso para qualquer um ler um texto escrito por marxistas. Eu imagino que eles adquiriram esse hábito como forma de combater alguns preconceitos estabelecidos sobre eles (como o de terem pouca formação – e de não tomarem banho). Assim, eles passaram a se expressar de maneira “intelectualóide” pra passar a idéia de que estudaram bastante (NOTA: Lula não se enquadra nesse quadro. Aposto um mindinho que ele nem sabe o que é dialética, quem dirá mais-valia. Alem disso, quando ele fala algo ininteligível é porque falou errado mesmo XD)
Por outro lado, tal postura é bem antagônica em lideranças que almejam “mobilizar e libertar o povo da opressão capitalista”. Pro “povo" ter “consciência de classe” (essencial pra tomar algum tipo de atitude) ele precisaria entender um pouco mais da própria realidade – coisa que dificilmente conseguirá lendo textos escritos com linguagem de relatório jurídico :-P.
Mas afinal por que eu escrevi tudo isso?? Apesar de parecer, não é porque estou treinando pra quando trabalhar pra alguma revista e ganhar por palavra escrita... o motivo é o seguinte: embora tudo seja falível, errar sempre é uma merda (e ninguem gosta de errar)...
Eu tenho bem guardado na cabeça a explicação do meu professor da faculdade sobre o que é “fetiche” no termo marxista. Ao mesmo tempo, eu acho sempre bom dar uma relida em qualquer assunto antes de se falar sobre ele para outras pessoas. Aí que esta o problema: sou um ser que quase nunca copiou matéria na vida, e é obvio que não tenho o caderno com o resumo feito pelo meu professor :-P. Assim sendo, tive que recorrer à maldita internet pra suprir minha “revisão memorial” (segundo neologismo do dia - chupa Guimarães!!). E ai, como já era esperado, me deparei com um monte de textos que fazem a leitura de Ulisses parecer menos intragável. Como conseqüência, vocês vão ler um texto escrito baseado apenas nos meus nobres neurônios, que embora sejam muito confiáveis, são passiveis de erros.
Se você for um marxista visitando o blog, esteja a vontade para apontar correções (apenas escreva de modo que eu entenda – e tome um banho).

O fetiche dos Ovos (não é que você tá pensando, seu mente-poluída!!)

Em seu imenso tijolo chamado “O Capital”, marx estabelece a noção de “fetiche da mercadoria”. Para o “bom velhinho” da Ciências Sociais, todo produto (fruto do trabalho humano) apresenta dois valores: valor de uso e valor de troca.

O valor de uso remete a real utilidade do produto, seu fim utilitário especifico. Ex: o valor de uso de uma roupa é vestir alguém.

O valor de troca é mais complexo, pois envolve a carga simbólica do produto. Ex: as roupas foram feitas para vestir, mas o valor de troca de uma mesma calça muda completamente se em uma delas você colocar uma etiqueta da Armani.

Embora também esteja relacionado ao conceito marxista de ideologia, o fetiche está estreitamente ligado ao valor de troca de algum produto. Como o valor de troca se estabelece no campo do simbólico (e não do concreto), o valor ilusório atribuído a uma mercadoria é assim chamado de fetiche (palavra cuja origem lingüística se refere a “feitiço”, “artificial”).

Eu vejo alguns problemas no excesso de uso do conceito para criticar qualquer coisa no universo capitalista. Numa leitura darwinista, alguns fetiches mercadológicos tem o claro papel de símbolo de status. Todos os animais abusam de simbolismo de poder para se impor sobre outros ou se tornar mais atraente para o sexo oposto. Realmente, uma calça da armani vai ter a mesma utilidade pratica do que qualquer outra marca, mas ela serve também para dizer “eu posso, você não!! Nánánánáááá!!!”.

Assim sendo, acho que o conceito de fetiche não deve ser usado pra criticar qualquer coisa cujo valor de troca supere muito o valor de uso, já que as vezes este pode carregar um valor de uso implícito: ajudar a transar!!
Pra quem acha que isso não tem valor nenhum, só vou lembrar: você só esta lendo este texto agora porque seu pai comeu a sua mãe (arrá, sacanei!! Aposto que você não gosta de pensar nisso!! Bwahahahahha!! Mas a culpa não é minha se temos herança judaico-cristã e complexos freudianos... :-P). A pratica da reprodução é essencial em qualquer espécie bem sucedida, e humanos não são de forma alguma exceção...

É claro que o conceito de fetiche também se aplica no quadro acima (já que o que torna um jeans “de marca” mais importante que outros é apenas uma convenção humana). Mas eu acho que o termo sempre é melhor utilizado quando exemplifica uma relação onde o valor de troca aumenta muito o preço de um produto, mas geralmente oferece poucos resultados concretos. Exemplos? O valor de troca de um jeans é duradouro (Você vai poder utiliza-lo seguidas vezes). A mesma coisa um carro de luxo, uma jóia... esses exemplos não se enquadrariam muito no fetiche, já que de certa forma valem seu preço. Mas nem todos os produtos são assim...

“_então quais seriam eles, babaca?”

Os itens onde você paga mais pelo caráter simbólico, mas sua durabilidade é ínfima!! Esses sim são exemplos perfeitos de fetiche - e eles existem aos montes!! Mas meu exemplo preferido são os huevitos de páscoa...

O ovo de páscoa nada mais é do que uma quantidade especifica de chocolate embalado em papel bonito. Assim que você receber ele (ou presenteá-lo) ele deixará de ser um enfeite bonitinho para se tornar uma maçaroca disforme e mal embalada na geladeira. Assim como os embrulhos de presentes, o fim ultimo de toda a “viadagem” de um ovo de páscoa é ser trucidado sem piedade. E quanto a mais você paga pela embalagem bonitinha e formato redondo? Em geral, quatro vezes mais do que o valor normal do chocolate!! Sim, isso mesmo!!

Vamos aos exemplos concretos: minha cunhada comprou pra ela um ovo de páscoa “Sonho de valsa” de 500g pelo valor de 39 reais. Quantos sonhos de valsa ela poderia comprar com esse dinheiro? Bem, ela poderia comprar dois pacotes de 1kg de “sonho de valsa”!! sim, ela poderia ter gastado quatro vezes menos - ou comido quatro vezes mais!!

Outro exemplo: veja AQUI a disparidade entre um ovo de páscoa chokito e um pacote de tabletes chokito. Pelo valor aproximado que você compra 240g de ovo de páscoa você poderia ter comprado 960g de chocolate em tablete!

E os ovos que vem com brinquedos? Geralmente o que vem neles é uma porcaria mal feita que logo estará entupindo o bueiro da sua casa. Mas mesmo assim é o novo achado das empresas que querem esfolar pais incautos.
Vamos buscar alguns exemplos? o ovo de páscoa do Bátima vem com uma capa xexelenta de brinde e 180g de chocolate ao leite (custa 30 merréis). com a mesma grana dá pra você gastar R$19,90 em um boneco articulado e comprar duas barras de chocolate branco (que juntas, contam 320 gramas!!). ou ainda, comprar um kit de luvas e máscara do batman por R$24,90 e mais uma barra de 160g (o resto da grana você embolsa :-P).
Alem disso, a maioria dos brindes que vem dentro desses ovos são encontrados (em versão melhor e mais barata) em qualquer camelô!!

Por isso que o ovo de páscoa é o melhor exemplo para “fetiche da mercadoria”!!ovo de páscoa tem seu valor no uso (comer) + valor simbólico (ser bonitinho), mas você vai pagar quatro vezes mais que o valor de uso apenas pelo caráter simbólico (que acaba assim que se abre a embalagem – geralmente menos de cinco minutos depois de entregue).

Então, apenas pra fixar bem a lição de hoje: fetiche no conceito marxista é o valor ilusório atribuído a um produto, fazendo com que você (trouxa proletário) pague mais por algo que vale menos (assim garantindo uma gorda mais-valia pro burguês).

Pronto!! Viu como não era difícil o troço? Tá certo que o artigo seria de melhor utilidade se eu tivesse escrito ele antes da páscoa, mas quem liga para esses detalhes?? O que importa é que você aprendeu finalmente a lição: na próxima páscoa, vê se não compra gato por lebre!! O_o


PS1: se quiser saber mais sobre a páscoa visite esse site AQUI.

PS2: Quanto ao linguajar marxista, uma parte maldosa de mim também especula que isso ocorra também porque eles não querem ser efetivamente entendidos (diga um monte de palavras complicadas pra alguém e a pessoa provavelmente concordará – com medo de ser considerada burra). Mágica só tem graça se você não conhece o truque, e quase tudo perde o brilho quando é desvendado em profundidade... Nesse contexto, eles pareceriam bastante com a “direita” que visam combater, usando “alienação” para combater “alienação” (cujo resultado costuma dar em merda ).

PS3: todos os marxistas que eu conheço tomam banho (pelo menos aparentemente).

PS4: não percam o segundo post especial de páscoa (ainda essa semana)!!

sexta-feira, 14 de março de 2008

Verdades, mentiras e luta de classes: duas pequenas análises televisivas


Passei este ultimo final de semana na casa da minha namorada. Como sempre, a tarde de domingo se tornaria meu maior pesadelo...
Depois de gastar toda a bateria do notebook combatendo o crime em Los Angeles (eu sou elite no S.W.A.T. rapá!!), ler o todas as matérias das minhas revistas que estavam lá, e constatar que não tinha trazido nenhum livro, cheguei a horrenda conclusão que me restava a televisão como único entretenimento possível. Sem muita alternativa, me acomodei no sofá e fiquei esperando pra ver o que ia passar. Curiosamente, até que não foi tão ruim (quer dizer, foi horrível, mas pelo menos deu pra tirar algum proveito – que nem quando se come espinafre :-P) e meu domingo televisivo deu caldo para dois pequenos artigos. Que a minha agonia sirva para entretê-los e instruí-los, ó leitores!!


:-P

As verdades e Mentiras de Agnaldo Timóteo

Existe um programa no SBTrolha chamado “Nada Além da Verdade”, onde (sub-)celebridades submetidas a um detector de mentiras respondem a perguntas (constrangedoras ou não) feitas pelo homem do Baú. Se contar sempre a verdade (ou for muito bom mentiroso), o mané pode faturar um premio de até 100 mil reais (hummm é do Silvio... será que é em “barras de ouro que valem mais do que dinheiro”??).
Em outras ocasiões já tinha visto parte desse programa (como quando a Mara Maravilha se ferrou haiuhaiuahiuahuihaiu). Aliás, o “detector de mentiras” parece ser a nova coqueluche televisiva, sendo explorado a exaustão por diversos canais e programas toscos...

Mas voltemos ao assunto principal. A vitima da vez era Agnaldo Timóteo, conhecido mala sem alça e metido a besta. Apesar de achar ele um porre (ou principalmente por isso), resolvi assistir o programa na ânsia que ele desse um “escorregão” e se... (como seria o termo?)... se fodesse (é, era esse mesmo o termo).
Mas as coisas não estavam caminhando da forma que eu queria...
O baixinho respondia com desenvoltura as perguntas mais cabeludas: se já tinha feito “trafico de influencia”, se era a favor da pena de morte, se considerava-se o cara mais esperto da família...
Ele não tinha medo de expor nenhuma de suas opiniões, e eu já estava achando que ficaria sem a preciosa satisfação de vê-lo tomar no “butão”... mas quando já estava sem muitas esperanças, na penúltima pergunta do programa, Agnardo Trimóteo é pego pela maquina!! E por uma pergunta que parecia nem tão “ameaçadora” assim (P:"você acha que seus amigos o consideram chato" R: sim)!!

Entender como Agnaldo se ferrou é o que propõe esse artigo (sim, essa era só a introdução :-P). Se não viu o programa e quer entender melhor a coisa, veja ele pelo youtoba. Se não, ao menos assista ele se ferrando (anexo no topo do artigo).

Como funciona o detector de mentiras

O detector de mentiras (Polígrafo, para os íntimos) é um conjunto de equipamentos que mede alterações físicas na pessoa avaliada (batimentos cardíacos, a pressão arterial, a freqüência respiratória etc). Os resultados obtidos são avaliados por um profissional especializado, que assim determina se as mudanças corpóreas indicam uma mentira ou não.
Geralmente os resultados obtidos com a maquina são bastante confiáveis, mas - como tudo na vida - nunca infalíveis. Se quiser saber um pouco mais como funciona o breguete antes de ler meu artigo, clique aqui.

O desempenho geral de Agnaldo Timóteo

Pra quem assistiu o troço (pela TV ou pelo Youtube), deve ter notado como ele não tem papas na língua para as perguntas mais escabrosas. Então como ele se ferrou com uma pergunta tão “bobinha”?
A primeira resposta possível é que o Polígrafo se equivocou. É uma possibilidade. Mas é uma possibilidade pequena (além do fato que eu não perderia tempo escrevendo esse artigo se eu acreditasse nisso).
Outra possibilidade é que Timóteo tenha conscientemente mentido, sabe-se lá porque. Acho improvável. Ele respondeu convictamente perguntas piores, alem do fato de que se respondesse “não, meus amigos não me consideram uma pessoa chata”, seria ainda melhor para ele (que "se acha" pra caralho). De toda forma, reitero que isso é bastante improvável.
Então, o que teria acontecido para que Timóteo se estropiasse? Tenho duas pequenas teorias...

1ª teoria: “merda... eu sou mesmo...”

O polígrafo é um conjunto de vários aparelhos de avaliação médica. Como é um conjunto de trambolhos bem pouco “fotogênicos” (e para evitar que o “Nada além da verdade” pareça com cenas de “Jogos Mortais”) os testes no detector são feitos antes do programa em si. Nessa etapa, a “celebridade” responde varias perguntas (mais do que responderá no programa em si).O convidado não sabe se o que respondeu foi dado como verdade ou mentira, e 20 das perguntas feitas anteriormente são repetidas no programa. Sendo assim, o polígrafo não avalia a resposta dada no programa, mas sim a mesma resposta dada anteriormente pelo participante.

Então vamos a alguns fatos facilmente confirmáveis: 1- o polígrafo pode ser “disparado” por outros fatores que causem alteração nos sinais físicos (como stress, insegurança). 2- Agnaldo Timóteo se acha o “gostosão da bala chita”. Agora imagine o seguinte: questionado sobre a própria chatice (assunto o qual ele nunca deve ter pensado a respeito, já que, a priori, todo chato nunca se acha chato), Agnaldo foi obrigado a pensar sobre o assunto (e assim responder). Como não é burro (não muito), ao refletir, ele chegou a conclusão que é sim um chato. Só que ao mesmo tempo que respondeu sinceramente, a constatação de tal fato o deixou “nervoso” (nada é pior para um chato do que a consciência da própria chatice). Assim sendo, as alterações físicas causadas pela decepção de se descobrir um chato fizeram com que o polí (detector de mentiras, para os ainda mais íntimos :-P) acusasse a resposta de Timóteo como mentira, embora ela fosse uma tremenda duma verdade – e a verdade quase sempre dói (ui)...

2ª teoria: “sei que sou chato, mas sou tão legal”

Uma coisa que fica bem clara durante o “Nada Além da Verdade” com Timótinho, é que Agnaldo é uma pessoa que efetivamente, “se acha”. Ele não é daquelas pessoas que fingem autoconfiança e arrogância (sim, tem pessoas assim), mas acredita piamente em suas próprias qualidades e opiniões (por mais absurdas que possam parecer aos olhos dos outros). Talvez a percepção que ele possua sobre ele mesmo possa ser equivocada, mas é efetivamente sincera.

Então como raios ele errou ao responder aquela pergunta??

Existe uma pequena teoria minha que envolve o “sentir X saber”. Ainda não a desenvolvi plenamente, mas trata essencialmente da ambigüidade humana; de conhecimento lógico versus percepção sensível.
Resumindo bem a bagaça: sentimentos e conhecimento são coisas diferentes. Ex: eu sei que as possibilidades de eu morrer trocando a lâmpada são ínfimas, mas mesmo assim tenho medo de altura; a moça sabe que o namorado é um tranqueira, mas mesmo assim ama ele; uma mãe sabe que é impossível ela ser culpada pela morte acidental do filho, mas mesmo assim ela se culpa, etc.
Bem, acho que deu pra entender o conceito geral... voltemos a Agnaldo Timóteo.
Ao ser questionado sobre sua própria chatice, ele foi obrigado a pensar a respeito do assunto... Chegou a conclusão que era chato sim (obvio), e respondeu o que pensou ser a verdade (só que o polígrafo acusou como mentira). Mas perae... se ele respondeu com sinceridade, por que a maquina acusou como mentira??
Ora, caros leitores, pela diferença entre saber e sentir. Agnaldo sabe que é chato, mas não se sente sendo chato (senão deixaria de ser chato, pois ser chato é muito chato:-P). sua resposta expressou uma conclusão lógica, mas esta longe de refletir a opinião real que ele tem sobre si mesmo (que, como se pode constatar pelo resto do programa, é extremamente superlativa). E sem ao menos se dar conta disso, Agnaldo mentiu para o polígrafo, perdeu uma boa grana, e deixou a tarde desse nerd um pouco mais divertida. Até que ver televisão é legal as vezes, não? XD


A luta de Classes no "Domingo Legal"

Pouco depois, ainda no canal do homem do Baú, começou o já tradicional (e maldito) “domingo legal”. Os quadros do programa do Gugu sempre seguiram a mesma estética mequetrefe de sempre, que é a de provocar ou estimular emoções baratas no espectador (geralmente das classes C, D, E... até Z :-P). Assim sendo, geralmente o programa se sustenta encima de quadros melodramáticos ou apelativos (não é só o Gugu que faz isso: Luciano Huck, por exemplo, faz a mesma merda. Mas por parecer menos brega e ter um cenário melhor, são poucos os que consideram Lucianeta “apelativo”).
Um dos quadros mais “imprensa marrom” do programa do Gugu é um chamado “Aconteceu Comigo”, onde geralmente é contada uma história bregodramatica de “superação”, como o caso do menino que foi atropelado duas vezes.
Refém das circunstancias (não existe nada mais aterrorizante do que outra pessoa com o controle remoto :-P), me vi obrigado a assistir o programa. O que eu definitivamente não esperava era que veria um exemplo perfeito de luta de classes ali...

Luta de Classes é um conceito marxista. Basicamente, se refere a um conflito entre duas classes sociais opostas (Dominantes X Dominados). Apesar de eu não ser Marxista, e da minha interpretação da “Luta de Classes” ser ligeiramente diferente da Marxista (um dia ainda falarei melhor disso), esse é um dos conceitos em Ciências Sociais que eu mais respeito.
Mas mudemos de assunto por hora... vamos falar de literatura!!
Na opinião de muita gente (a minha inclusive), a melhor metáfora sobre esse embate foi mostrado na obra “A maquina do Tempo”, do escritor H.G. Wells. No referido livro, ao viajar para o futuro, o personagem central se depara com uma “sociedade” dividida entre dois seres distintos: os Eloi (frágeis, felizes e bobinhos) e os Morlocks (seres monstruosos e repulsivos do subterrâneo).Na trama, os Elois vivem numa condição de “mordomia aparente”, enquanto os Morlocks são condenados a viver em condições precárias... em compensação, os Morlocks capturam vez ou outra um Eloi babão para comer (no sentido gastronômico mesmo :-P). Se você não for retardado já deve ter entendido que os Elois simbolizam a elite, enquanto os Morlocks, o povão.

Agora, voltemos nossa atenção novamente para o quadro do “Domingo Lerdal”. A história exibida nessa edição era sobre um menino na faixa de 13 anos que praticava corrida de Kart (aparentemente, era semi-profissional) e fora ferido na área do peito por uma linha de pipa contendo cerol (o estrago foi feio. Cortou ligações musculares, veias e até osso). Como é de praxe, apesar das dificuldades passadas pelo garoto, ele foi atendido no Hospital Albert Einstein e tudo correu bem - e eles foram felizes para sempre :-P.

Ai você se pergunta: “Mas o que essa porra tem a ver com luta de classes??” Tudo, eu lhe respondo.

Se um garoto tem como Hobby andar de Kart (coisa bem cara), provavelmente é rico. E qual é a diversão principal de garotos pobres e remelentos? Pipas!!
Apesar de eu ficar devendo dados estatísticos*, a Pipa é obviamente a principal diversão de garotos na periferia: é barata de se construir e só precisa de um pouco de vento pra funcionar. O uso de Cerol também é lugar comum na vida desses garotos (já que propicia um pouco de competição e emoção em algo que, a principio, é bem maçante). O uso de cerol provoca muitos acidentes, mas a maioria das crianças que o usam ignoram tal fato ou fazem vista grossa a ele (é praticamente a única diversão que eles tem, e não vai ser fácil convence-los a abandona-la).
Há uma ironia cruel em um garoto de classe alta (Eloi) sendo ferido pelo principal meio de diversão das crianças pobres (morlocks)...

Ao contrario de alguns colegas marxistas (não todos), não sinto prazer nenhum com o derramamento de sangue de “crianças burguesas” (não acho que o garoto que se feriu com cerol “mereceu” sua sina). Também não tenho a ilusão de um futuro onde não haja classes sociais. Mas, ainda assim, Tenho esperança em um mundo mais justo – onde existam sim diferenças sociais entre as pessoas, mas estas não sejam tão gritantes quanto as que ocorrem “hoje”.
Enquanto isso, vivemos em um mundo onde criança nenhuma esta efetivamente segura... com a diferença que as “crianças morlock”, quando vitimadas pelo destino, geralmente morrem antes mesmo de serem atendidas - e que suas histórias (sem final feliz) não costumam cair tão bem na grade dominical.


* por falta de estatística, tenho conhecimento empírico de sobra: minha namorada mora na periferia de Ibirá (não é a mesma coisa que uma periferia mesmo, mas dá pra tirar uma base) e ano passado dei aula na periferia de catanduva (nota morbida adicional: o irmão de um dos alunos morreu atropelado ao correr atrás de uma pipa).

PS1: Uma outra boa obra sobre luta de classes é o filme brasileiro “O invasor”.

PS2: esse blog continua em manutenção parcial.

PS3: curiosidade Nerd - o cara que inventou o polígrafo também é o criador da Mulher Maravilha!!