domingo, 9 de dezembro de 2007

Papel para desenhar HQ's




POST EDITADO: Humildes cidadãos, long long time ago, eu fiz uma versão tosca (mas funcional) do papel usado para usar hq's. Em outra situação, tentando refazer o arquivo com mais qualidade, noto que outras boas almas já se empenharam na tarefa e colocaram na net um papel mais melhor que o meu... assim sendo, por obra do destino, disponibilizo aqui material que não é meu (achei aqui: Artes Visuais). O manolo que fez o pdf é tão foda que colocou papel para todas as opções: comics, magazine, manga etc.



^^

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Virginia Tech – Uma análise sociológica-nerdica do porque tais massacres serem tão comuns nos EUA



Poucos eventos costumam despertar tanta atenção da mídia como os famosos “massacres” que ocorrem de tempos em tempos em escolas e universidades americanas. Destes, o mais gritante parece ser o ocorrido em Virginia Tech - devido ao numero de vitimas e também ao destaque que recebeu.
Mas porque esses massacres ocorrem? Porque são um fenômeno majoritariamente Americano? e Por que ainda é tão fácil se obter armas na terra do Tio Sam? São essas perguntas que tentaremos responder agora!


O American Way of Life

Podemos entender muito sobre a cultura de alguns paises apenas observando a maneira que seu próprio povo se retrata através das mídias. A cultura americana é uma das mais fáceis de se estudar nesse sentido; devido a grande profusão e destaque que seus produtos culturais alcançam. Desses aspectos culturais tipicamente americanos, um dos mais visíveis na mídia é a “cultura do loser”. Para quem não sabe o que é isso, vou dar uma resumida básica:

A ofensa mais grave que se pode fazer a um americano é chama-lo de "perdedor" (loser). Mas quem seria esse perdedor? Bem, geralmente o perdedor é “escolhido” desde os tempos do colégio, onde por não se enquadrar em algum padrão (geralmente popularidade e condição financeira), o “perdedor” sofre a opressão e colegas de classe e até mesmo de educadores (que fazem vista grossa ao fato). Exemplos de “perdedores”? Apesar de serem tantos os que poderiam ser listados aqui, creio que nenhum obra artística representou tão bem o “ciclo do perdedor” do que o relativamente recente desenho animado Danny Phantom. Para quem já assistiu o desenho é fácil perceber todo um núcleo de perdedores: Danny (o fracote de pais esquisitos), Tuker (o nerd) e Sam (a gothica). Esses “perdedores” por sua vez são vitimas constantes dos chamados “vencedores”: Os jogadores de “futebol americano” e as “patricinhas gostosonas”. É um ecossistema claramente dividido entre “incluídos” e “excluídos”, entre “populares” e “impopulares”, entre “vencedores” e “perdedores”. E esse é o resumo quase perfeito de um dos aspectos mais terríveis do american way of life.

Mas você deve estar se perguntando: de onde vem isso? Porque uma sociedade inteira se organiza dessa forma? Calma jovem Padawan... você logo saberá a resposta!! Mas para isso é preciso voltar no tempo... lá para o inicio da colonização americana...

A ética protestante e o espírito do Bullynismo

Era uma vez um cara chamado Weber, Max Weber... um dia, querendo sacanear o materialismo histórico de Marx, esse cara escreve um livro intitulado “a ética protestante e o espírito do capitalismo”. Nesse livro Weber analisa a influencia da ética protestante no desenvolvimento econômico superior dos paises formados em sua maioria por seguidores dessa religião. Mas o que teria a ver os “crentes” com o “capetalismo”? muita coisa!
A chave para entender essa relação é a teoria da “predestinação absoluta” de João Calvino (um dos principais nomes da “reforma protestante”). Se Lutero isentou a “burguesia” de ir para o inferno (colocando como item principal do bom cristão a fé - e não as obras), Calvino melhorou ainda mais o lado dos “prayboy”: associou prosperidade material com sinal divino!!
A teoria da predestinação absoluta é mais ou menos assim: você nasce e deus olha para a sua cara... já com essa olhadinha rápida (ele tem muita gente para olhar, então ao reclama não!!:-P), ele já determina se você vai para o céu ou para o inferno. Sim, você já nasceria “predestinado” a um dos dois lados... Mas como deus não é tão mal assim, ele não deixaria você “as cegas” sem saber se era um “escolhido” ou não... ele te mandaria uma pista... qual pista? Se você conseguisse obter êxito material (encher o rabo de bufunfa, grana, ca$$him...), desde que fosse por meio do trabalho (não vale roubar nem “pecar”), era um sinal de que deus escolheu você pra ficar do “ladinho” dele no céu...
Assim sendo, ao contrario do católico (para quem o lucro é algo ruim), o evangélico calvinista se esforça extremamente para ficar o mais rico possível (e assim ser visto como “escolhido” pelos seus vizinhos).

Como você já deve ter aprendido na aula de historia (se não aprendeu, preste mais atenção, porra!!), as pessoas que fundam os Estados Unidos são ingleses ultra-puritanos (e de origem calvinista) que partem em busca de criar um país próprio onde pudessem exercer todo o seu puritanismo exacerbado. Sim, as pessoas que fundam os E.U.A. são exatamente os crentes bitolados que eu descrevi acima :-P.
Essa é a chave para entender muitos aspectos característicos da cultura americana, desde o “self made man”, a ânsia por êxito econômico e - pasmem - a cultura do loser!!

Se você não fez ainda uma relação entre a ética protestante e a cultura do loser eu vou facilitar as coisas pra você... Imagine que você estuda em uma escola americana. Lá logo cedo se formam as panelinhas dos “vencedores”, e começam a se definir quem vão ser os sacos de pancadas deles – os “perdedores”. É possível argumentar que tal comportamento acontece em quase todas as sociedades (o que não deixa de ser verdade), mas você rapidamente percebera como ele é especialmente forte na sociedade norte-americana. Os “perdedores” de outros paises costumam se adaptar a outros meios sociais, nunca ficando necessariamente isolados. Os “perdedores” americanos não.
Exemplo? Vá para qualquer escola do Brasil. Lá você observará que existem conflitos constantes entre a “molecada”, mas dificilmente achará uma criança que pareça não se encaixar em “lugar nenhum”. As brincadeiras de mal gosto existem, mas raramente estas são dirigidas no estilo “todos contra um” (o aluno “oprimido” geralmente tem outros grupos onde ele se encaixa, e interage com outros colegas); outras vezes, você notará que existe amizade entre agressor e agredido, e que muitas vezes o papel se inverte (?).
Agora voltando ao exemplo americano... nos EUA não existe nada disso!! Quando é excluído do meio social, o “perdedor” é excluído de maneira quase absoluta! Os “vencedores” dificilmente lhes dirigem a palavra (a não ser por motivos de escárnio), seus outros colegas se omitem de tentar interagir com eles (evitando tambem serem vitimas de tais agressões) e até mesmo professores aderem a esse tipo de comportamento. A marca do loser americano é a completa solidão...

Aprofundando as evidencias

Para compreender melhor o fato, vamos nos aprofundar a relação entre a cultura do loser e as características comuns a maioria desses massacres. Uma pergunta que fica na cabeça é porque esses massacres costumam envolver tanta gente que aparentemente “nada tinha a ver com o rolo”. O fato é, como eu disse acima, que o loser geralmente é excluído de todo o meio social, e logo, todos passam a ser seus “inimigos”. Não significa necessariamente que todos os que são vitimas desse massacre eram praticantes de agressões, mas é certo que a imensa maioria se omitia de posicionar-se contra (e isso também tem um peso enorme).
Agora é preciso entender o porque dessa omissão e conivência ser tão comum por lá. O primeiro fator se refere obviamente a “ética protestante” onipresente no comportamento dos americanos (mesmo entre os que são ateus ou seguem outra religião). Outro se refere ao fato de que é muito difícil se opor a hábitos previamente estabelecidos. É apenas questão de se imaginar a coisa toda como um “ciclo”. A maioria das pessoas se omitem não por concordarem com tais praticas, mas por medo de também serem vitimas das mesmas. Ao mesmo tempo, se tornar um “agressor” (ou fazer parte do seu grupo de amigos) é um caminho extremamente rápido para ser visto como um “vencedor”. Assim sendo, como o fato de você não rir da piada idiota que um desses valentões fez com um “perdedor” provavelmente o colocará na lista de futuros “perdedores” a serem zoados, você obviamente irá “entrar na onda” e achar aquilo totalmente “normal e bonito”! Também devemos levar em conta que o ser humano é um animal com extrema necessidade de “integração”, por vezes praticando as coisas mais imbecis ou hediondas para poder se enquadrar em algum meio.
O fato é que a grande maioria dos 33 baleados pelo atirador de Virginia Tech eram tão vitimas quanto ele...

Por que o acesso as armas é tão fácil nos Estados Unidos?

Outro ponto que chama atenção quando esses eventos ocorrem é a facilidade com o qual se obtém armas de fogo nos Estados Unidos. A raiz de tal fato também se encontra numa mistura de história e contexto político-social...
Voltando as aulas de história, vocês devem saber que os Americanos realizaram uma guerra contra a Inglaterra para conquistar sua independência. Nesse período, uma das influencias mais fortes das lideranças envolvidas era os assim chamados “Iluministas”. Destes, é especialmente forte a “presença” de Locke (não, não é o do Lost :P) na elaboração da constituição americana.
Para quem não sabe, o direito ao porte de armas é garantido na própria constituição desse país!! Por que isso? Creio que também tenha muito a ver com Locke...
Locke era um jus naturalista (defendia direitos naturais, que já nasciam com as pessoas); para ele, esses direitos seriam simultaneamente a vida, a liberdade e a propriedade privada. Sendo assim, o Estado existiria com a finalidade única de garantir e suprir esses direitos... mas e se o Estado não o fizesse? Ou se o Estado fosse agressor?

Segundo Locke, quando o executivo ou o legislativo violam a lei estabelecida e atentam contra a propriedade, o governo deixa de cumprir o fim a que fora destinado, tornando-se ilegal e degenerando em tirania (o exercício do poder para além do direito, visando o interesse próprio e não o bem público ou comum);
A violação deliberada e sistemática da propriedade (vida, liberdade e bens) e o uso contínuo da força sem amparo legal colocam o governo em estado de guerra contra a sociedade e os governantes em rebelião contra os governados, conferindo ao povo o legítimo direito de resistência à opressão e à tirania.

(Clique aqui para a fonte - é um ótimo resumo)

Siiiimmmmmm.... isso mesmo que você leu: se o estado deixa de cumprir o que lhe foi incumbido, o cidadão (ou cidadãos) tem o direito ou de derrubar esse governo - ou de garantir eles próprios esses direitos. É o famoso “direito de resistência” Lockeano!!
Tal premissa - aliada ao fato de que os americanos tiveram que conquistar sua liberdade política à força - explica porque é tão caro aos americanos o direito de se conseguir um trabuco tão facilmente (mesmo que isso implique em algumas crianças e jovens mortos com certa frequencia...).

A culpa é do filme??

Sempre que tais eventos acontecem sempre pinta entre as especulações uma possível “má influencia da mídia” (o mais engraçado é que a própria TV que costuma ser uma das maiores propagandistas dessas versões :P). Nesse caso não foi diferente.
Uma das fotos enviadas pelo atirador Cho Seung-hui o mostrava portando um martelo em pose que fazia possível alusão ao filme “OldBoy”. Obviamente tal foto deu origem a muito “bafafá” sobre os possíveis efeitos negativos que filmes e games podem fazer com as pessoas (fundamentalistas evangélicos especularam até possível intervenção do tinhoso). O assunto mídia ainda será tratado inúmera vezes nesse blog, de maneira mais profunda e contundente, então, vou apenas apontar algumas peças chaves do porquê tal premissa é equivocada: 1- como os outros milhões que assistiram o filme não mataram ninguém?; 2 – A sociedade adora apontar esse tipo de “desculpa” sobre a influencia da mídia, pois geralmente isso a poupa de tentar enxergar o próprio umbigo (e de tomar qualquer providencia concreta).

Conclusão

Para mim a relação entre os massacres constantes ocorridos em ambientes de ensino (e a cultura do loser) está tão correlacionada a “ética protestante” que fico até surpreso que nenhum outro sociólogo antes de mim se deu ao trabalho de relacionar ambos (ou eu pesquisei pouco e banquei o idiota digitando 4 paginas sobre o assunto O_o).
O fato é que sempre que tais eventos ocorrem, raras vezes ouço falar que os atiradores que praticam tal barbárie eram vitimas de outros colegas (geralmente a mídia se apressa a taxa-los como psicopatas). Não estou aqui defendendo a postura tomada por tais jovens, e nem afirmando que os mesmos não sofriam de possíveis distúrbios mentais. Mas transforma-los em simples “vilões de desenho animado” (cuja maldade geralmente é inata, e não existe nada que a justifique) é de uma grosseria intelectual absurda.
O material entregue pelo protagonista do ataque a uma rede de televisão americana denuncia muito mais do que um jovem perturbado: denuncia desejo de vingança (não contra indivíduos, mas contra uma sociedade) e denuncia também uma espécie de “discurso messiânico” (onde o mesmo se torna um “mártir” da causa dos losers).
Tais massacres deveriam servir de alerta para uma mudança gradual e efetiva no bullying rotineiro praticado em escolas, e também numa regulamentação mais restritiva à venda e posse de armas. Encerrar o assunto com “Virginia Tech tinha comportamento violento e era solitário” é empurrar a sujeira da sociedade para debaixo do tapete – e se esquecer que, cedo ou tarde, a sujeira pode voltar a sujar a sala...



PS1: A homenagem as vitimas do massacre de Virginia Tech foi feita em um estádio de futebol americano. No final eles cantaram o "grito de guerra" da Universidade (e do time de Futebol) num gesto de “união”. Acho que esses massagres não acabarão tão cedo...

PS2: seis meses depois do massacre de Virginia, novo massacre aconteceu em escola americana...

PS3: dentre as inúmeras soluções discutidas para evitar novas incidências de massacres similares, nenhuma inclui uma fiscalização mais rígida do comportamento dos alunos visando diminuir a incidência de Bullying no ambiente escolar (será que as pessoas são mesma assim tão burras??)

PS4: Aos colegas mais versados em Webber ou Locke, desculpem algum eventual erro. Aceito sujestões para aprimorar o artigo.

PS5: outro pequeno artigo interessante (clique aqui).

PS6: esse post só está 7 meses atrasado :P

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

O Segredo – O Dossiê do cético nerd




Nota Posterior: Widson Porto Reis, um dos responsáveis pelo excelente site cético “Projeto Ockham”, publicou em seu Blog “O Dragão da Garagem” um minucioso guia cético sobre o segredo (apontando todos os equívocos e falsas verdades do pseudo-documentario). O artigo está dividido em 3 partes, e está magnífico. Vale muito a pena conferir!!Parabéns ao Widson, que teve estomago para encarar essa merda de “O Segredo” e compartilhar com os outros mortais (meu intento inicial era realizar um trabalho como o dele, mas não aguentei assistir nem 5 minutos de “O segredo” :P)!!


O segredo foi descoberto, o segredo foi escondido, o segredo foi revelado... e agora... O SEGREDO SERÁ ESCULHAMBADO!!


O Segredo é a mais recente praga da auto-ajuda a infestar o mundo. Basicamente, o que a obra promete é qualquer merda que você queira, bastando pensar nela por tempo suficiente e da maneira correta. Usando ciência (deturpada pra caber no contexto), pseudociência e um monte de baboseiras New Age, O Segredo (tanto o “filme” quanto o “livro”) se tornaram Best-sellers.
As grandes mídias foram (ao meu ver) bastante complacentes em sua postura perante esse livro, e eu senti falta (mesmo) de alguma revista torturando sem piedade tal obra. Como ninguem aparentemente fez "o serviço", acabei eu mesmo dando minha contrinuição...
Esse "Dossiê" contem na verdade bem pouco material escrito por mim, me restando o trabalho de apenas anexar algumas coisas e organizar o material. Boa leitura!

1- Uma crítica realmente boa de O Segredo

A única crítica realmente decente que lembro de ter lido sobre essa “obra” foi postada por um “Xará” que também é nerd. Leiam a critica dele antes de seguir adiante (ela é essencial no dossiê). Neste outro blog também tem um resumo supimpa (bom para entender as teses centrais do livro).

2 - Porque as pessoas consomem auto-ajuda?

O segredo não seria um sucesso se as pessoas já não tivessem “predisposição” para acreditarem no tipo de conteúdo que a obra veicula. Anexarei aqui trechos de dois livros falando do assunto (Livros estes que realmente merecem ser comprados e lidos). O primeiro trecho é do livro “O mundo assombrado pelos demônios”, do astrônomo e divulgador da ciência Carl Sagan (já falecido). Nesta parte em especifico, ele conta como um mágico amador e o caça-fraudes James Randi fizeram de besta a Austrália* com esse papo de auto-ajuda. Confira:

Numa terra distante nos mares do Sul, começou a circular a noticia de um sábio, um homem que curava doenças, um espírito encarnado. Ele podia falar através do tempo. Era um mestre ascenso. Ele estava vindo, diziam. Ele estava vindo...


CARLOS
EM BREVE
NA AUSTRÁLIA

Aqueles que o viram jamais esquecerão. O jovem e brilhante artista que lhes falava de repente parece vacilar, o seu pulso diminui de forma perigosa e virtualmente se detém no ponto da morte. O assessor médico qualificado, que tem a tarefa de exercer uma vigilância constante, está prestes a soar o alarme.

Mas nesse momento, com uma explosão de fazer bater o coração, sente-se o pulso de novo - mais rápido e mais forte do que nunca. A força vital claramente voltou ao corpo - mas a entidade dentro do corpo já não é Jose Luis Alvarez, o jovem de dezenove anos cuja original cerâmica decorativa é destaque em algumas das casas mais ricas da América do Norte. Em seu lugar, o corpo foi assumido por Carlos, uma alma antiga, cujos ensinamentos constituem tanto um choque como uma inspiração. Um ser passa por uma espécie de morte para dar lugar a outro; esse é o fenômeno que tornou Carlos, canalizado por meio de Jose Luis Alvarez, a nova figura dominante na consciência da Nova Era. Como disse até um crítico cético de Nova York: “O primeiro e único caso de um canalizador que apresenta provas físicas tangíveis de alguma mudança misteriosa em sua fisiologia humana”.

Agora Jose, que já passou por mais de 170 dessas pequenas mortes e transformações, recebeu ordens de Carlos para visitar a Austrália – nas palavras do Mestre, “a antiga terra nova” que deve ser a fonte de uma revelação especial. Carlos já previu que, em 1988, muitas catástrofes vão assolar a Terra, dois importantes lideres mundiais morrerão e, mais para o fim do ano, os australianos estarão entre os primeiros a ver o nascimento de uma grande estrela que terá profunda influencia sobre a vida futura na Terra.

DOMINGO 21
15:00
ÓPERA
TEATRO DRAMÁTICO

Num acidente de motocicleta em 1986, explicava o kit da imprensa, Jose Alvarez - então com dezessete anos - sofreu uma concussão leve. Depois de sua recuperação, aqueles que o conheciam podiam ver que ele tinha mudado. As vezes emanava dele uma voz muito diferente. Desnorteado,Alvarez procurou a ajuda de um psicoterapeuta, um especialista em desordens de múltipla personalidade. O psiquiatra “descobriu que Jose estava canalizando uma entidade distinta que era conhecida como Carlos.Essa entidade assume o corpo de Alvarez quando a força vital do corpo é relaxada até o grau apropriado. Carlos, veio a se saber, é um espírito desencarnado de 2 mil anos, um fantasma sem forma corpórea, que invadiu pela última vez um corpo humano em Caracas, Venezuela, em 1900.Infelizmente, esse corpo morreu com a idade de doze anos devido a uma queda de cavalo. Essa pode ser a razão, explicou o terapeuta, de Carlos ter sido capaz de entrar no corpo de Alvarez depois do acidente de motocicleta.Quando Alvarez entra em transe, o espírito de Carlos, focalizado por um grande e raro cristal, assume o corpo e profere a sabedoria das eras.

Junto com o kit de imprensa, vinham uma lista das principais apresentações em cidades norte-americanas, um videoteipe da tumultuada recepção dada a Alvarez/Carlos num teatro da Broadway, a sua entrevista na estação de rádio WOOP de Nova York, e outras indicações de que ali estava um formidável fenômeno norte-americano da Nova Era. Dois pequenos detalhes comprovadores. Um artigo de um jornal do sul da Flórida afirmava:
“NOTA DO TEATRO: A temporada de três dias do canalizador Carlos foi prorrogada no Auditório do Memorial da Guerra [...] em resposta aos pedidos de novas apresentações”. E um trecho extraído de um guia de programas de televisão listava um especial sobre “A ENTIDADE CARLOS: Esse estudo em profundidade revela os fatos por trás de uma das
personalidades mais populares e controversas da atualidade”.
Alvarez e seu empresário chegaram a Sydney na primeira classe da Qantas. Viajaram por toda parte numa enorme limusine branca. Ocuparam a suíte presidencial num dos hotéis mais prestigiados da cidade. Alvarez trajava uma elegante bata branca com um medalhão dourado. Na primeira entrevista concedida à imprensa, Carlos imediatamente apareceu. A entidadeera vigorosa, instruída, dominadora. Os programas de televisão australianos logo se candidataram a apresentações de Alvarez, com seu empresário e seu enfermeiro (para checar o pulso e anunciar a presença de Carlos).No Today Show da Austrália, eles foram entrevistados pelo apresentador George Negus. Quando Negus fez algumas perguntas céticas e racionais, os adeptos da Nova Era mostraram-se muito sensíveis. Carlos lançou uma maldição contra o apresentador. O empresário encharcou Negus com um copo de água. Ambos se retiraram altivamente do local da entrevista.
Foi um escândalo na imprensa sensacionalista, e repercutiu sob várias formas na televisão australiana. “Explosão na TV: água contra Negus”, era a manchete da primeira página do Daily Mirror em 16 de fevereiro de 1988. As estações de televisão foram inundadas de telefonemas. Um cidadão de Sydney avisou que a maldição contra Negus deveria ser levada a sério: o exercito de Satã já assumira o controle das Nações Unidas, dizia ele, e a
Austrália poderia ser a próxima vítima.
A aparição seguinte de Carlos se deu na versão australiana de A current affair. Também compareceu ao programa um cético que descreveu um truque mágico capaz de causar uma breve parada do pulso numa das mãos: é só colocar uma bola de borracha sob a axila e aperta-la. Quando a autenticidade de Carlos foi questionada, ele ficou ofendido: “Esta entrevista está terminada!”, berrou.
No dia marcado, o Teatro Dramático da Ópera de Sydney estava quase lotado. Uma multidão excitada, de jovens e velhos, movia-se expectante. A entrada era franca - o que tranqüilizava aqueles que se perguntavam vagamente se o espetáculo não poderia ser uma fraude.
Alvarez sentou-se num sofá baixo. Seu pulso foi monitorado. De repente,parou. Aparentemente, ele estava perto da morte. Ruídos baixos e guturais emergiam de suas profundezas. A platéia estava boquiaberta de admiração e terror. De repente, o corpo de Alvarez adquiriu força. Sua postura irradiava confiança. Uma perspectiva ampla, humanitária e espiritual fluiu da boca de Alvarez. Carlos estava presente! Entrevistados mais tarde, muitos membros da platéia confessaram ter ficado comovidos e encantados.
No domingo seguinte, o programa mais popular da TV australiana - chamado Sixty minutes em alusão a seu equivalente norte-americano -revelava que o caso Carlos era uma brincadeira, do começo ao fim. Os produtores acharam que seria instrutivo verificar com que facilidade se poderia criar um guru ou um curandeiro da fé para enganar o público e a mídia. Assim, naturalmente, eles entraram em contato com um dos principais especialistas em enganar o público (pelo menos, entre os que não detém cargos políticos, nem os assessoram) - o mágico James Randi. (...)
Sagan, C. "O Mundo Assombrado
Pelos Demônios". (páginas 195 a 198)

Apesar de não estar na integra, o trecho destacado mostra bem como as pessoas são facilmente enganadas. O ideal é ler o capitulo inteiro que conta esse “causo” (melhor ainda: ler o livro inteiro).O referido livro pode ser Baixado neste link. A “edição de bolso” dele está com um ótimo preço (na faixa dos 20 merréis); excelente investimento por um precinho camarada.
O segundo trecho é do ótimo livro “O mundo de Sofia”, que dá um resumão legal de toda a história da filosofia. No trecho abaixo o professor de filosofia de Sofia opina sobre o fenômeno dos livros de auto-ajuda (não estranhem o português: a versão que lerão é a lusitana :P).

Atravessaram o parque em frente à igreja e chegaram à rua principal. Alberto estava ligeiramente nervoso e, naquele momento, apontou para uma livraria. Chamava-se Libris e era a maior da cidade.
- Queres mostrar-me alguma coisa aqui?
- Vamos entrar.
Na livraria, Alberto apontou para a estante maior. Tinha três secções: NEW AGE, ESTILOS DE VIDA ALTERNATIVOS E MISTICISMO.
Nas estantes, havia livros com títulos muito empolgantes: “Haverá Vida para Além da Morte?, Os Segredos do Espírito, Tarot, O Fenômeno OVNI, Healing, O Regresso dos Deuses, A Reencarnação, O Que é a Astrologia?”, e muitos outros. Havia mais de cem títulos diferentes. Sobre um banco via-se uma pilha de livros semelhantes.
-Isto também é o século XX, Sofia. Este é o templo do nosso tempo.
- Não acreditas nestas coisas?
- Muito disto é absurdo, mas vende tão bem como pornografia. De fato, muito do conteúdo destes livros pode ser definido como uma espécie de pornografia. Aqui, os jovens podem comprar exatamente aquilo que mais lhes interessa. Todavia, a relação entre a verdadeira filosofia e estes livros é comparável à relação que existe entre o amor verdadeiro e a pornografia.
- Não estarás a exagerar?
- Vamos sentar-nos no parque.
Saíram da livraria e encontraram um banco livre em frente à igreja. Debaixo das árvores, alguns pombos pavoneavam-se e havia um ou outro pardal agitado.
- É a parapsicologia ou PES - explicou Alberto. - Ou "telepatia", "clarividência", "psicocinética", ou "espiritismo", "astrologia" e "ovnilogia".
- Mas diz-me: achas que isso é tudo uma fraude?
- Não seria digno de um filósofo tratar tudo da mesma maneira. Mas não quero excluir a hipótese de que os termos que referi possam formar um mapa bastante detalhado de uma paisagem que não existe. E há muito daquilo a que Hume chamava "ilusão e engano" e queria lançar às chamas. Em muitos destes livros não se encontra uma única experiência autêntica.
-Mas então porque são escritos tantos livros deste gênero?
- É um dos negócios mais lucrativos do mundo e é isto que muitas pessoas gostam
de ler.
- E porque é que achas que gostam de ler estas coisas?
- Porque sentem um desejo de algo "místico", de algo "diferente" que quebre a monotonia do quotidiano. É andar à procura de uma coisa que está à frente do nariz.
- O que queres dizer?
- Fazemos parte de uma aventura maravilhosa. Em frente a nós há uma obra, a criação. À luz do dia, Sofia! Não é inacreditável?
- Sim.
- Porque havíamos de ir à procura da cigana que lê a sina ou de saguões acadêmicos para experimentar algo de "empolgante" ou "transcendente"?
- Achas que aqueles que escrevem estes livros contam apenas mentiras?
- Não, não foi isso que eu disse. Vou-te explicar de um modo darwinista.
- Estou a ouvir!
-Pensa em tudo o que se passa no decorrer de um único dia. Limita-te a um dia da tua vida. Pensa em tudo o que vês e experimentas.
- Sim?
- Por vezes, há coincidências estranhas. Entras numa loja, por exemplo, e gastas vinte e oito coroas. Mais tarde encontras Jorunn que te restitui as vinte e oito coroas que lhe tinhas emprestado, finalmente vão ao cinema e dão-te o lugar número vinte e oito.
- Sim, seria uma estranha coincidência.
- Mas seria uma coincidência. A questão é que algumas pessoas “recolhem” coincidências deste tipo. Reúnem-se experiências misteriosas ou inexplicáveis e quando elas, fruto da vida de alguns milhares de pessoas, são reunidas num livro, podem dar a impressão de ser um imponente material de prova. E o material aumenta constantemente.
Mas neste caso, também estamos perante uma loteria onde apenas os bilhetes vencedores são visíveis.
- Não há pessoas videntes ou "médiuns" que têm experiências destas constantemente?
- Sim, há. E se excluirmos os vigaristas, encontramos também uma outra explicação para essas experiências místicas".
-Diz!
- Recordas que falamos de Freud e da sua teoria do inconsciente?
- Quantas vezes tenho de te dizer que a minha memória é boa?
- Já Freud mostrara que muitas vezes nos podemos comportar como se fôssemos médiuns do nosso inconsciente.
Podemos fazer ou dizer coisas de repente sem conseguirmos compreender o porquê. O motivo disso é o fato de nós termos mais experiências, pensamentos e recordações do que aqueles de que temos consciência.
- E então?
- Por vezes, as pessoas falam ou andam enquanto dormem. Chamamos a este gênero de fenômenos "automatismo psíquico". Mesmo sob hipnose, os homens podem dizer ou fazer coisas que sucedem "por si".
E lembras-te dos surrealistas, que tentavam escrever "automaticamente". Tentavam tornar-se assim médiuns da sua própria consciência.
- Ainda me lembro disso.
-Com intervalos regulares, neste século, surgem notícias de homens, de médiuns, que conseguem entrar em contato com defuntos. Falando com a voz do morto, ou servindo-se da escrita automática, o médium receberia uma mensagem de um ser humano que tinha vivido há muitos séculos. Estes fatos são usados como prova de que existe uma vida além da morte ou de que um homem vive muitas vidas.
- Compreendo.
- Não estou a dizer que todos estes médiuns sejam vigaristas: alguns agiram de boa fé. De fato, foram médiuns, mas do seu inconsciente.
Houve bastantes médiuns que em estado de transe mostraram capacidades e conhecimentos que nem eles próprios nem os outros sabiam explicar. Por exemplo, uma mulher que não sabia hebraico, começou a falar nessa língua. Das duas uma: ou tinha vivido uma vida anterior ou estava em contato com o espírito de um morto.
- O que te parece?
- Soube-se depois que a mulher tinha tido uma “baby-sitter” judia quando era pequena...
- Ah...
- Ficaste desiludida? De qualquer modo, é fantástico ver até onde vai a capacidade de algumas pessoas de acumularem no inconsciente experiências anteriores.
- Compreendo o que queres dizer.
-Muitas coisas estranhas quotidianas também podem ser explicadas à luz da teoria do inconsciente. Se recebo uma chamada de um amigo que não vejo há muitos anos, justamente quando estava à procura do seu número de telefone...
- Sinto um arrepio...
-A explicação pode ser, por exemplo, que ambos ouvimos uma velha canção na rádio, uma canção que ouvimos juntos na última vez que nos vimos. O ponto fundamental é o fato de esta relação oculta não ser consciente...
- Então, ou é trapaça ... ou o truque do bilhete vencedor na loteria... ou o inconsciente?
- De qualquer modo, é melhor aproximarmo-nos com ceticismo destas estantes, principalmente para um filósofo. Em Inglaterra existe uma associação dos cépticos. Há muitos anos, esta associação ofereceu uma grande soma de dinheiro à primeira pessoa que conseguisse um único exemplo verificável de uma coisa sobrenatural. Não era necessário ser um milagre, bastava um pequeno exemplo de transmissão de pensamento. Até agora, ninguém se apresentou.
- Compreendo.
- Uma coisa completamente diferente é admitirmos que há muitas coisas que não compreendemos. Talvez não conheçamos ainda todas as leis da natureza. No século passado, muita gente considerava o magnetismo e a eletricidade como uma espécie de magia. Aposto que a minha bisavó abriria os olhos de espanto se eu lhe falasse da televisão ou dos computadores.
- Então não acreditas em nada de sobrenatural?
- Já falamos disso. A própria expressão "sobrenatural" é um pouco bizarra. Não, acho que existe uma única natureza, que em compensação é espantosa.
- E todos aqueles fenômenos de que falam os livros que me mostraste?
- Todos os verdadeiros filósofos devem manter os olhos abertos. Mesmo que não tenhamos visto nenhum corvo branco, não devemos deixar de o procurar. E um dia, mesmo um céptico como eu será obrigado a aceitar um fenômeno em que não acreditara anteriormente. Se não mantivesse aberta esta possibilidade, seria um dogmático, e não um verdadeiro filósofo.
Sofia e Alberto ficaram sentados no banco em silêncio.

Gaarder,J. O Mundo de Sofia.
(paginas 307 a 309)


O referido livro pode ser baixado nesse link. Ele também pode ser facilmente encontrado em qualquer livraria, embora seu preço continue um tanto salgado (mas vale cada centavo).
3 - Mas afinal, pensamento positivo funciona mesmo?

Depende. É obvio que uma postura “positiva” e autoconfiante em relação a vida te ajudará a viver melhor. Mas isso é um fenômeno psicológico facilmente explicável, e não tem nada de metafísico: Se você adquirir tal postura perante a vida obviamente vai passar a enxergar melhor as “coisas boas”, bem como superar melhor as “ruins”. Nada de excepcional nisso.
Agora, daí pra esperar que as coisas surjam milagrosamente no seu colo por conta disso é uma diferença enorme...
Na verdade, a reportagem sobre o tema na Super Interessante deixou isso bastante claro. A única coisa que eu achei que faltou foi uma postura mais “agressiva” quanto as baboseiras do livro, um ataque mais direto (sutíleza é o caralho. quero é porraaaaadddaaaaaa!!!).

4 - E por ultimo: se a técnica do segredo funcionasse mesmo...

... eu acharia dinheiro toda vez que eu saio na rua.
... eu teria traçado todas as minas gatinhas na minha adolescência.
... eu teria adquirido super-poderes na adolescência.
... meus animais de estimação não morreriam nunca.
... pedófilos, ditadores e outros bostas morreriam de modo fulminante.
... meu blog seria o mais acessado do mundo :P.

Ahhh... e só pra constar: nunca acho grana na rua, não comia ninguém na aborrecencia (nerds... :P), nunca ganhei poderes, enterrei vários gatos e cachorros, Sadam não morreu por minha causa, e quase ninguém visita esse blog... :P

PS1: Aproveitem o link da Super Interessante – todo o conteúdo já publicado está disponível e free lá.

PS2: provavelmente esse blog só terá um novo post segunda ou terça-feira. Não estranhem :P (alias, vocês deviam era estranhar posts freqüentes...)

* A Austrália também é o país da autora de O Segredo (Rhonda Byrne). Um dos gurus fajutos de “Lost” também era de lá... to achando que há um padrão ai ;-)


terça-feira, 23 de outubro de 2007

As 5 melhores coisas toscas da TV

Eu não sou muito “chegado” na mídia televisiva (quer dizer, na mídia televisiva “de pobre”. Se eu tivesse TV a cabo ia me esbaldar de Discovery, History Channel, National Geographic, HBO etc). Isso não quer dizer que só exista porcaria na TV aberta (TV escola, Cultura e outras tem excelente programações), mas é obvio que elas compõem a maioria da programação dos canais.
Mas com o tempo, uma coisa bizarra aconteceu: criei o habito de apreciar as coisas “toscas” que porventura acabo vendo. Cansado de ficar puto com a qualidade ruim da programação, meu cérebro resolveu que era melhor se divertir com ela (ou desenvolver uma ulcera :P). Compartilho agora com vocês as... 5 Melhores coisas toscas da TV!!!

1 - Propaganda do Dollynho



parece propaganda subliminar do Capeta. Mas não é: nem o Tinhoso desceria tão baixo :P

2 – TV diário





O canal Cearense tem uma programação de amargar. Desde pérolas do Forró até mesmo o tradicional “barraco de pobre”.

3 - Siri Cascuda



Íris Steffaneli apresentando... bem, qualquer coisa :P

4- Silas Malafaia



Vai dizer que não é engraçado um Pastor homofóbico que dá tanto gritinhos pra se expressar? Sei não heim... tá me lembrando “Beleza americana”...

5 – Canção Nova



Canais religiosos só são um porre pra quem não tem senso de humor. Em que outro lugar você veria franciscanos dançando RAP??!!

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

8 coisas REALMENTE imbecis em filmes de terror


Filmes de terror pra “aborrecentes” são um gênero cinematográfico muito peculiar... Embora geralmente sejam uma porcaria, sempre encontram um publico cativo que garante sua continuidade (e lucros absurdos a seus investidores). Salvo raras e honrosas exceções, esse é um gênero que pessoalmente detesto, por isso, resolvi sacaneá-lo (é pra isso que blog’s servem, não? Sacanear o que não gostamos? :P).



1- que situação estranha... mas deve estar tudo bem!

Não importa quão bizarra seja a situação que esteja ocorrendo, ninguém desconfia que está correndo perigo, ou que o fulano esquisito na frente deles é um maníaco homicida... mesmo personagens que em tese deveriam “sacar” o perigo agem como mulas (policiais, agentes do FBI e outros do gênero). “Assim não pode, assim num dá”!! É demais pro meu saco!


2 – Eu acredito na ciência!!

Se existe um erro que o Sociólogo Max Weber cometeu foi a “previsão” que haveria uma secularização da sociedade humana (resumindo porcamente: onde a fé perderia cada vez mais espaço para a ciência). Isso obviamente não ocorreu. Basta não ser cego (ou burro) para perceber que a maioria das pessoas ainda adoram explicações metafísicas, simpatias e outras trozobas do tipo... Pois bem, mas quando essas pessoas são personagens de filmes de terror, elas se portam como legítimos adeptos do ceticismo!! Se na vida real a maioria das pessoas adotam explicações metafísicas para todo o tipo de fatos estanhos (ex: espíritos, encostos, conjugação astral, macumba etc), os personagens de filme de terror são de um ceticismo surpreendente!! Eles só se rendem as explicações sobrenaturais em ultima instancia (geralmente, prestes a serem mortos :P)!! Carl Sagan e James Randi ficariam orgulhosos...

3 – estou sozinho, venha me pegar!

Mesmo o maior dos panacas sabe que a melhor alternativa quando se lida com alguma ameaça externa desconhecida é se agrupar, seja pra poder enfrentar melhor o inimigo, seja para poder vigiar amigos “suspeitos”. Mas é claro que ninguém em filmes de terror faz isso, preferindo andar sozinho em lugares mal iluminados onde encontrarão a morte certa.

4 – eu te enfrento com as mãos limpas!!

Outra atitude sensata a se tomar é adquirir uma arma (já notou que quase ninguém tem uma nesses filmes? – e isso por que quase todo americano tem um trabuco em casa...). se você não pode conseguir uma arma de fogo, convém adquirir qualquer outra coisa que sirva como tal, como um porrete, um pedaço de ferro, ou até mesmo uma caneta (pô, vocês não viram “a identidade Bourne”? :P). mas não, eles também acham melhor sair correndo por ai desarmados e dando gritinhos...

5– suja, sangrando...mas gostosa!!

Alem do fato de que sempre tem uma cena gratuita de nudez e sexo (mesmo que não faça o menor sentido na trama), as mulheres dos filmes conseguem a proeza de estarem sempre gostosonas!!! Mesmo que alguém já tenha esmurrado a fuça delas, esfaqueado-as... mesmo que já tenham corrido uns 10 km do vilão... mesmo que estejam morrendo... ainda assim, seu cabelo estará bonito e ela estará usando decote!!

6– eu te derrubei... agora eu continuo a correr

Alem do fato de que nunca (mas nuunnncaaa meeessssmoooo!!) eles resolvem enfrentar a ameaça ao invés de ficar fugindo dela, quando por algum milagre conseguem desacordar o meliante ou atordoá-lo, eles não tratam de alguns itens básicos: desarmá-lo (e pegar a arma pra si) e certificar-se que está morto (isso pode ser garantido com um corte na artéria jugular, quebrando o pescoço, ou enfiando a caneta –lembram? :P – no olho do infeliz (se forem pessoas “humanistas”, podem pelo menos foder com as pernas dele e com os braços :P).


7 – eu acredito na ressurreição da carne

não importa o que tenha acontecido com a merda do vilão (esfaqueado, baleado, amputado, queimado ou o caralho-á-quatrado...) ele sempre irá voltar – para uma nova seqüência com clichês infindáveis...(no final de “o massacre da serra elétrica” – a refilmagem - o vilão reaparece, com sua bendita serra... só que um braço da anta tinha sido amputado!! Fica a questão: como o animal ligou a serra???).



8- Apetite do Scooby-Doo

Em filmes de terror onde os animais são vilões, os malditos desgraçados (além de serem verdadeiros ninjas) sempre estão com uma fome descomunal. Conforme você deve ter aprendido no National Geografic ou no Discovery Chanel (sim, eu duvido que tu tenha lido livros :P), a maioria dos animais carnívoros de grande porte (Leões, Crocodilos, Anacondas, Tiranossauros, etc) se alimenta APENAS uma vez a cada vários dias!!! Mas é claro que nesses filmes catinguentos a porcaria dos bichos do mal comem mais do que uma mulher deprimida presa na Fantástica Fabrica de Chocolates O_o


PS: não, nunca matei ninguém... pelo menos, não que eu lembre :P

PS2: filmes que são de terror e sacaneiam esses clichês costumam ser bons (como os recentes filmes do “chuck’ e a “trilogia pânico”)


PS3: não tenho nada contra filmes de terror, desde que eles não sejam idiotas ou ao menos saibam rir de si mesmos.

PS4: Meu resumo de Jogos Mortais: “é sobre um babaca que mata as pessoas para ensinar a elas o valor da vida, usando para isso métodos inspirados em episódios de Tom & Jerry”.

PS5: o “erro” de Weber ainda vai ser abordado de forma séria nesse blog...

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Psicopata Americano – Uma análise da personalidade de Batman


Quem tu chamou de Psicopata?!!heim?!!

Observação: O texto a seguir se baseia em observações e opiniões minhas, e pode causar polemica entre alguns fãs (xiitas) do Homem-Morcego. Apenas como atenuante, gostaria de lembrar que ele é um dos meus personagens favoritos (juntamente com Demolidor e Kenshin Himura), a ponto de eu ter feito minha monografia de Ciências Sociais sobre a mini-série “O cavaleiro das Trevas” (em breve disponível no Blog).
Basicamente, o que fiz foi colocar “o morcego no divã”. Apesar de não ser formado em psicologia, acredito conhecer o suficiente sobre a alma humana (e sobre o personagem) para palpitar a respeito...
Na vida real, é extremamente difícil definir alguém. As pessoas são bastante complexas e geralmente dispomos de poucas informações sobre elas. No caso de Batman, temos uma vantagem: como é um personagem, temos bastante informação acerca de sua vida. Mas apesar do extenso material disponível sobre o personagem, me baseei principalmente nos “quatro evangelhos canônicos” do Morcego (“O Cavaleiro das Trevas”, “Batman – ano um”, “A piada mortal”, “Asilo Arkham”) e em um apócrifo (“O longo dia das Bruxas”).
Resolvi separar os tópicos pelo método “perguntas e respostas”, pois creio que fica mais fácil o entendimento assim. Boa leitura!!

Qual é a natureza da personalidade de Bruce?

Primeiro fato a se constatar: Bruce tinha uma natureza agressiva antes mesmo de seus pais serem mortos. Na cena em que persegue o coelho antes de cair na caverna isto é evidente (DK1). Ele possui um temperamento e uma sede de vencer característicos de "agressividade". Quando digo isso não quero dizer que ele era uma pessoa propensa a “sair dando porrada” nas pessoas, que era um “projeto de Brucutu”. A agressividade a que me refiro não é necessariamente física, e não necessariamente ruim. “Agressividade” no contexto que proponho é mais como um “impulso” para a vitória (custe o que custar), obstinação, implacabilidade - Aos iniciados em política ou direito, bastante similar ao conceito maquiavélico de virtú.
Se seus pais não houvessem sido mortos e Bruce tivesse tido uma vida normal, é bem provável que ele acabasse como um desses executivos obstinados, como um negociador da bolsa de valores, ou em cargos de gerencia, onde costumeiramente os talentos intelectuais de bruce – juntamente com sua “agressividade”- o tornariam muito apto a exercer este papel com brilhantismo. Ou pode ser - na pior das hipóteses - que ele tivesse se tornado o que é costumeiramente chamado de “psicopata Corporativo”, alguém que se empenhasse em sempre ser o melhor e em conseguir o que quer – não importa quem ou o que atravessasse seu caminho.
Quando seus pais foram mortos diante de seus olhos, a agressividade de Bruce tomou outros rumos, mais sombrios. O menino Bruce se tornou o "homem" Bruce de maneira repentina, sem a devida preparação... ele se ergueu da calçada transformado em outra pessoa, uma pessoa em que essa agressividade estivesse mais aflorada - pois ela seria necessária para lidar com a nova situação, para mantê-lo em pé...
Da mesma forma que uma vida normal poderia se encarregar de amenizar este traço de personalidade, o trauma a ampliou-a significantemente, acrescendo doses de raiva e medo.
Também convém citar os quadrinhos iniciais de “O Cavaleiro das Trevas”, onde Bruce participa de uma corrida de carros. Como Batman havia deixado de “existir”, seu alter ego precisava desviar sua agressividade pra outras atividades, como a citada corrida (que ele transforma numa questão de vida ou morte).

Quem é Bruce Wayne?

Bem, vamos começar de maneira simples, para depois aprofundar: o que define, basicamente, Bruce Wayne, são 3 pontos: 1 - sua personalidade natural (agressiva, citada acima), 2 - o convívio com seus pais, 3 - a morte dos mesmos.
Muito bem. Depois que seus pais morreram, Bruce, profundamente abalado foi até o tumulo deles e jurou “livrar esta cidade do mal que ceifou suas vidas”. Pode parecer que não, mas esse é o ponto crucial das atitudes do Batman... Mas estou adiantado demais! precisamos voltar um pouco mais atrás, nas personalidades de Thomas e Martha Wayne...
Thomas é um medico, e para ele nada é mais sagrado que a vida. Por isso ele escolheu como oficio uma profissão que vise salvar pessoas. Você pode pensar “mas é pelo dinheiro!”, mas na minissérie “o longo dia das bruxas” o chefe da família Falcone leva seu filho baleado para Thomas, que não o deixa morrer (como muitos deixariam, já que o sujeito “não presta”), mas o salva - sem receber pagamento (de qualquer tipo). Esta cena define bem o pai de Bruce: alguém que defende o american way básico, os ideais de justiça, honestidade e liberdade, mas que considera que uma vida - qualquer uma - esta acima disto. Outro ponto a se notar é a maneira com que interage com Bruce: ele é um pai austero, mas carinhoso.
Martha é o exemplo de mãe perfeita. Atenciosa e carinhosa, ela faz o perfeito contraponto a figura um pouco mais sisuda de Thomas. Sua família é seu bem mais precioso, e ela compartilha do mesmo amor a vida que seu esposo.
As coisas mais importantes para Bruce são as pessoas descritas acima. Elas são o seu alicerce, e tudo o que ele é se deve a elas. Quando estas pessoas morrem o mundo de Bruce desmorona. É ai que voltamos a cena do juramento...
O que bruce faz lá não é uma promessinha a toa, como a maioria das pessoas estão acostumadas. Seus pais são o que lhe é mais sagrado, e estes lhe ensinaram que promessas são importantes. E Bruce dedicara cada fibra de seu ser - e pagará qualquer preço - para honrar sua palavra.

O que leva um milionário a se vestir de morcego?

Pense bem: Bruce realmente precisaria sair a campo pra cumprir seu juramento? Claro que não!! Ele é rico, ele poderia fazer isso de “trocentas” maneiras, sem precisar tirar o traseiro de seu sofá do séc XVIII.
Nas historias vemos ele usando alguns desses métodos alternativos. O principal envolve a doação de dinheiro a instituições de caridade (que diminuem problemas sociais, e por conseqüência o crime) e penais (que coíbem novos crimes). Ele poderia ir ainda mais longe e financiar uma milícia particular pra combater o crime (de certa forma, ele faz isso também...). Então por que raios ele arrisca o próprio couro toda santa noite? Resposta: porque ele quer!
Ao combater o crime como Batman, Bruce não esta apenas cumprindo o seu juramento, ele também esta descontando sua raiva.
Basicamente ele sai, todas as noites, pra castigar pessoalmente os criminosos. Mais do que isso, creio que ele também faz isso pra se castigar. Sei que isso vai fazer muito fã querer minha pele, mas acredito que o que Bruce faz todas as noites também seja claramente um “ritual de auto-flagelação”. Calma que isso vai ser melhor explicado depois...

Por que escolher um morcego como símbolo?

Quando pensava em uma maneira de intimidar criminosos, um morcego atravessou a janela do lugar onde Bruce estava. Ele se lembrou de que quando era um garoto ele caiu na caverna abaixo da casa e ficou aterrorizado com os morcegos que voavam em sua direção. Ele decidiu se tornar parecido com aquilo que o aterrorizou quando criança, para causar terror enquanto adulto (naqueles que merecessem, claro).
Essa resposta parece obvia, mas significa bem mais do que aparenta. Vamos ir a fundo nas questões que ela implica...
Vamos emendar outra pergunta: O que mais aterrorizou o pequeno Bruce Wayne? Resposta: não, não foi um morcego! foi um criminoso, aquele que matou seus pais diante dos seus olhos!!
O fato é que, pra combater o crime, bruce precisou se tornar alguém quase tão ruim quanto aqueles que combate. Ele essencialmente é um criminoso também: age a margem da lei, tortura, usa armas ilegais, abusa de violência física e psicológica pra conseguir seus objetivos. Ao escolher o morcego como símbolo ele não estava apenas achando um meio de “intimidar criminosos”, ele estava se tornando aquilo que temia!!
Ele escolheu a aparência de um monstro, mas não o é. Ele também usa métodos que o aproximam de um criminoso, mas luta pela justiça. Para enfrentar seus medos, Bruce se apoderou de parte do que eles significavam.

Por que ele não mata?

Esta é provavelmente a seção mais ampla de todas as respostas. E, creio também, a mais complexa. Sabemos que - para poder cumprir seu juramento - ele teve que se aprimorar, evoluir... Enquanto permaneceu sob a tutela de Alfred ele aprendeu o que foi possível sobre o crime e maneiras de combatê-lo, mas nada excepcional. Ele precisava de autonomia para se aprimorar, e obteve independência. Com isso ele poderia rodar o mundo em busca de conhecimento, e obter contato real do perigo. Aqui chegamos ao ponto que interessa. Bruce aprendeu tudo o que podia sobre ser um guerreiro, inclusive técnicas que matam oponentes. Ele se tornou um “assassino potencial” (talvez o mais hábil deles).
A natureza agressiva, e o trauma da morte dos pais geram um imenso impulso assassino. É o desejo de aplicar a punição suprema, de livrar definitivamente a sociedade de quem não é digno de permanecer nela, de ser “carrasco”. Vendo todos esses aspectos a respeito de Bruce, parece até absurdo que ele não tenha executado um criminoso ainda (principalmente psicopatas do quilate do Coringa).
O fato é que algumas vezes ele quase perdeu o controle, mas algo mais forte o segura: o exemplo de seus pais e seu juramento. Se ele matar um criminoso, por pior que este seja, ele estará se tornando também um assassino - isto é parte do mal que jurou combater. Estará traindo a si próprio, e manchando a memória de seus pais.
Também sobre isso, é bacana como os sentimentos de Bruce andam em “círculos”: a perda dos pais o faz ter ódio de criminosos a ponto de querer mata-los; mas seus pais não aprovariam essa atitude, que força-o a frear esse impulso; ele se lembra que pessoas tão nobres foram tiradas dele, e isso lhe causa ódio... assim sucessivamente, como uma bomba prestes a explodir que sempre é “desligada” no final, mas recomeça imediatamente sua “contagem”.

Alem disso, há algo mais que freia seu impulso assassino. De fato, o que mais aterrorizou Bruce em sua infância não foram morcegos e criminosos, mas a própria morte em si. A morte é o que mais assusta Bruce, o que ele mais teme. Por mais que ele odeie criminosos, ele odeia acima de tudo a morte.
Esse é o aspecto que acho mais bacana no personagem: seus sentimentos conflitantes sobre “matar ou não matar”. São sentimentos complexos, que envolvem diversos fatores emocionais e racionais. E isso é uma das coisas que tornam o personagem tão rico!!

Por que existem os robins?

Os Robins sempre foram um fator polemico nas historias do Batman. algumas pessoas gostam, pois é parte da mitologia do homem-morcego; outras pessoas detestam, pois acham que ameniza o tom sombrio que as historias (e o personagem) deviam ter. Eu, particularmente, acho que o “Robin”(qualquer um dos), quando aproveitado de maneira correta, é um ótimo personagem, e como vocês verão abaixo, pode até acentuar o tom sombrio do Batman...
Ao contrario do que as más línguas falam, não existe nada de “michaelJacksonzismo” nos motivos que levam Batman a adotar crianças em sua guerra ao crime. O motivo real é mais complicado de explicar, mas vamos lá: Quando seus pais morreram, o que Bruce queria fazer imediatamente é caçar o criminoso, mas é claro que isso não era possível, pois não tinha habilidades necessárias para faze-lo. Ele teve que esperar muitos anos, que foram necessários para que estivesse apto a exercer a atividade de “justiceiro”. Ao convocar crianças como aliados, crianças estas que já presenciaram tragédia similar a sua, ele espelha nelas os seus desejos de jovem - que era “imediatamente” reagir perante a morte de seus pais. Ele realiza seu sonho de infância nestes garotos, dando a eles a oportunidade que ele próprio queria ter tido.
Existem outros pormenores nessa questão, que ficarão mais evidentes nos tópicos sobre os Robins...

Por que houve desentendimentos entre Batman e Dick Grayson (o 1º Robin)?

Se você leu a resposta da pergunta acima, saiba que ela é um dos maiores motivos. Em suma: Dick queria um pai, Bruce queria um soldado (porque você acha, que em meio a tantos órfãos no mundo, Bruce adotou um moleque com habilidades acrobáticas e uma tragédia envolvendo o crime? :P).
Dick é uma pessoa que também ansiava por justiça, mas não em tons tão negros quanto os de Batman. Sua personalidade não é agressiva como a de seu tutor (pessoalmente, acho que ela se parece mais com a de Clark Kent). É ai que começam os desentendimentos: Dick discorda dos métodos excessivamente violentos que Batman emprega em sua “guerra”, Bruce se decepciona com a falta de “vigor” com que seu pupilo encara a sua atividade noturna. A verdade é que Dick se parece mais com uma pessoa comum, ele lamenta a morte dos pais, mas o sentimento que brota disso é compaixão (e não raiva, como no caso de Bruce). Ele não é “Robin” para castigar o mundo, e sim para evitar que outras pessoas sofram. Ele não tinha o desejo de ficar remoendo o passado, e viver num eterno luto como bruce: ele só queria seguir com sua vida (o que restou dela), achar um novo lar, ter um novo pai, ser apenas um moleque comum. O problema é que um pai comum era tudo que Bruce não era, e com o tempo as diferenças entre ambos ficaram mais evidentes, provocando uma ruptura da parceria - e uma relação tempestuosa que volta e meia explode em agressões mutuas.

O que levou Batman a recrutar o 2º Robin, Jason Todd?

Apesar do evidente despreparo para assumir a função, Bruce aceitou Jason como parceiro e aprendiz. Ele fez isso por alto grau de identificação: é provável que se não fosse rico bruce se parecesse muito com o moleque que teve a audácia de tentar roubar as rodas do batmovel. Imaginar isso não é difícil, é só atentar para os traços de personalidade dos dois. Só para lembrar, o que define batman, em suma, são três pontos: sua personalidade, seus pais, e a morte de seus pais. O primeiro diz respeito a maneira como ele reage as coisas. O segundo são seus exemplos de conduta, que direciona a maneira como ele reage. O ultimo define um propósito de vida, decorrido de um trauma. Tood tem em comum o 1º e o 3º ponto.
O que mantém Batman na linha, que faz com que ele não sucumba a seus instintos agressivos (principalmente ao seu desejo de ser carrasco), é o segundo ponto.
Jason não teve esse exemplo, sua família era desestruturada, e ele não teve contato com os princípios que ajudaram a moldar bruce. E em parte é devido a sua condição social. Tood é claramente a versão “pobre” de um Bruce adolescente.
Mais do que adquirir um novo parceiro, Batman queria dar uma chance de redenção àquele garoto. De certa forma, foi a vez em que batman mais cedeu em seu caráter “punitivo”: Ele estava oferecendo reabilitação ao invés de retaliação.
Mas as coisas não são tão simples assim. A personalidade de Jason já estava estragada demais, e não havia muito o que fazer. Conforme progredia sob a manta de Robin, Jason ficava cada vez mais prepotente e agressivo. Ao contrario de Bruce, que em seu processo de aperfeiçoamento aprendeu a conter seus instintos, Jason os aflorava cada vez mais, caminhando para a autodestruição.
É claro que o novo Robin era uma fraqueza evidente para o Batman, e o Coringa não deixou de perceber. Ele se aproveitou das falhas na personalidade de Jason pra atraí-lo a uma armadilha, onde o 2º robin encontrou sua morte.
Depois da morte de seus pais, este foi o evento mais traumático com que bruce já lidou. E de longe, a maior derrota de Batman. Não foi a penas o jovem Jason Tood que morreu, mas um grande pedaço do lado “esperançoso” de Bruce...


Bruce carrega algum sentimento de culpa ou medo?

No recente Batman Begins, talvez para criar uma certa simpatia com o personagem central (ao estilo marvel), Bruce possui um sentimento de culpa em relação a morte dos pais. Quem já leu os quadrinhos sabe que isso é puro “hollywoodnismo”.
Mas não é necessariamente falso o conceito de culpa e medo em Bruce. Lembram do “Cavaleiro das Trevas”? quais eram os únicos momentos em que Batman não estava confiante, inflexível e prepotente? Resposta: quando ele estava “perdendo” uma luta.
Nota-se no personagem um receio absurdo de parecer ou ser fraco. E eu livremente associo isso a um sentimento de culpa (intricado de maneira mais inconsciente no personagem). O que da maior prazer ao Batman é ser forte e ameaçador – e principalmente poder exercer essa força e ameaça.
Numa interpretação livre, especulo que o personagem carrega um sentimento de culpa por ter sido fraco quando seus pais morreram. É claro que isso não possui nenhum aspecto lógico (um garoto não poderia nunca impedir o assassinato dos pais por um bandido armado), mas traumas não precisam de lógica para existirem.
O medo de Bruce é justamente parecer ou ser fraco. Na noite em que seus pais morreram, Bruce se sentiu extremamente fraco, impotente , vulnerável... e provavelmente jurou a si mesmo nunca estar novamente em posição similar. Sendo assim, Bruce é obcecado pela sua própria força e potencial, dedicando-se a atingir todos os limites possíveis a um ser humano (intelectuais e físicos).
Não é apenas isso. Se lembram que comentei acima que Bruce provavelmente sai pra se castigar enquanto castiga criminosos? Isso esta intrinsecamente ligado ao sentimento de culpa por “ter sido fraco”. Batman gosta de espancar, torturar, aterrorizar... e ele também adora enfrentar um oponente perigoso e mostrar pra ele que ele agüenta todo tipo de “porrada”. Ele adora levar um soco bem dado e saber que pode resistir a isso!! Ele adora ser torturado e saber que isso é pífio para ele!! Ele possui uma relação dúbia com a dor, onde sentir (e vencer) a mesma acaba resultando em “prazer”, o prazer de ser "forte"...
Nota: se você é um nerd bravinho que não gostou de ler sobre isso, recomendo reler todo o “Cavaleiro das Trevas”...

Porque seus relacionamentos são tão instáveis?

Quem conhece o personagem deve notar que seus relacionamentos (de qualquer espécie) geralmente acabam mal, e que Batman muitas vezes é ríspido até mesmo com pessoas que ele ama muito (como o Mordomo Alfred, praticamente seu pai adotivo). Apenas sua personalidade naturalmente “agressiva” não é suficiente para explicar isso...
O fato é que tal atitude é extremamente defensiva. Não é que ele não se importe com as pessoas, mas ele evita se importar (ou demonstrar que se importa). Sua intenção é evitar aproximações. Ele faz isso basicamente por três motivos: 1- ele quer evitar sentir novamente a dor de perder alguém que ama (não se esqueçam que o evento mais importante e traumático de sua vida foi a morte dos pais); 2 – ele quer evitar provocar a mesma dor de perda em terceiros se algo acontecer com ele (por isso ele faz questão de ser “chato”, causando natural antipatia nas pessoas - evitando assim que estas se importem com ele); 3 – Sua obsessão com o combate ao crime exige constante distanciamento emocional. É natural que ele “atropele” suas relações pessoais para dar vazão a sua “mania” de combater o crime.
Quanto ao terceiro ponto, não consigo deixar de estabelecer uma relação com outro famoso detetive: Sherlock Holmes. Para quem já leu as aventuras do detetive mais fodão do séc.XIX, deve lembrar que ele evitava qualquer tipo de relacionamento por acreditar que eles seriam um obstáculo a sua impressionante frieza e dedução lógica (essenciais para um bom detetive). Não quer dizer que ele fosse “gay”, mas sim que ele se absteve de uma vida pessoal para dar vazão a sua obsessão. Também vale lembrar os clássicos detetives da literatura e cinema noir (como os personagens de Dashiell Hammett e Raymond Chandler), que mantinham uma vida pessoal instável em nome do combate ao crime.
Pessoalmente, considero o Batman ideal justamente essa figura sisuda e "assexuada" citada acima. Detesto roteiros (e principalmente os filmes) onde “empurram” o Morcego para algum rabo de saia “amor de infância” ou coisa do tipo. Esse perfil raramente combina com o “Batman ideal”, e considero tais histórias um desrespeito tremendo com a essência do personagem. O problema é que a malfadada fama de “gay” atribuída ao Batman geralmente força os roteiristas a seguirem tal caminho. Também não estou dizendo que o personagem não deveria se envolver com mulheres: acho apenas que isso deveria ocorrer com menos freqüência e passando longe do padrão “morcego apaixonado”. Detetive noir bom mesmo é aquele que até transa (ou usa) as mulheres, mas passa longe de se apaixonar com elas...



Bem galera, era basicamente isso. Alguns outros pontos e raciocínios meus a respeito do morcego estou guardando para a futura postagem do resumo da minha monografia, bem como outros artigos sobre o Morcego que breve aparecerão aqui. Abraços!!

PS: O desenho que ilustra a matéria é meu. resolvi usá-lo para vocês não pensarem que a única coisa que sei desenhar são minhas charges mal-rabiscadas :P

sábado, 6 de outubro de 2007

E lá se vai o cão arrependido... (livro sobre o absolutismo de brinde)




Vocês devem saber que esse blog vivia as moscas (de postagens e visitantes). Recentemente “ressuscitei” o dito cujo, e ele não esta mais as moscas (pelo menos em postagens :-P). Por algum milagre desconhecido, tenho conseguido manter uma freqüência boa de posts aqui. Assim sendo, fico triste em comunicar que ele vai ficar uma semana “de molho” para eu me dedicar a atividades profissionais (eu também preciso de grana porra!!).
Como presente de despedida, deixo aqui o link para baixar um trabalho que fiz em tempos de faculdade: um livro didático sobre o absolutismo. Ele foi feito utilizando o Corel Draw e cliparts (a maioria das vezes, recauchutados por mim para poderem caber no contexto), e possui linguagem informal e piadas ao estilo “MAD”. Acho que vale ao menos uma conferida...



Abraços e até Breve!!

PS1: Em uma semana eu volto leitores!! Não vão embora, heim? NÃO VÃO EMBORA!!! PORRRR FAVORRRR... NÃO VÃO... BUUUUÉÉÉÉÉÉÉÉÉ...

PS2: anexei algumas imagens do livro para voces terem uma idéia de como ele é.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Causos do fundo do mar (duas pequenas analises envolvendo Bob Esponja)



Todo mundo deve conhecer o desenho Bob Esponja - afinal, faz uns “trocentos” anos que ele passa na Globo :P. Pessoalmente, é um desenho que aprecio muito. Adoro as doses de humor non sense e o trio principal de protagonistas (dois imbecis e um rabugento presunçoso). O problema é que a popularidade do desenho o coloca em evidencia, e volta e meia isso se torna “imã” de burrice ideológica, teorias conspiratórias e outras coisas estapafúrdias...


Caso 1 – A esponja neo-liberal

Todo mundo sabe que os Marxistas são meio tapados. Mas volta e meia aparece um mais tapado ainda que a média... recentemente tem circulado pela internet um trabalho (na verdade, uma monografia "recauchutada") intitulado “O Merchandising Capitalista no Desenho Bob Esponja”, de Wilker de Jesus Lira. Tal “obra” visa “provar” influencias nefastas e neo-liberais que o referido desenho pode causar nas pobres criancinhas do mundo. Como é de praxe, o referencial teórico básico é Marx e Adorno...

Confesso que não perdi meu tempo lendo toda a obra, mas me aventurei (corajosamente) na leitura de mais de um terço da mesma. Alem disso, o resumo principal já revela suficientemente o teor da coisa. Assim sendo, vou apontar aqui algumas perolas da dita cuja.
O mais absurdo, ao meu ver, é que o autor demonstra ter visto a maioria dos episódios do desenho, conhecer com detalhes alguns pormenores da obra, e ainda assim... NÃO ENTENDER PORRA NENHUMA DO QUE VIU!!

O primeiro erro estúpido do autor é a idéia de que os personagens da trama são “heróis”. Não existe esse tipo de maniqueísmo em "Bob Esponja". Todos os personagens são dotados de imperfeições. É besteira achar que as crianças riem com os personagens, elas riem é deles. Ninguém vai querer ser como o Bob esponja quando crescer, porque este é um imbecil completo. E só sendo muito mais imbecil para não ver isso.
O desenho não enaltece a sociedade capitalista, ao contrario: a satiriza. É uma critica mais sutil do que seria visível em (por exemplo) “Os Simpsons”, mas ainda assim muito mordaz. Olhem os personagens da trama: ninguém ali bate bem!! E os coadjuvantes (os famosos "peixinhos")? Estes também são representados com qualidades “magníficas” como burrice, preguiça e covardia.
Vamos dar uma olhada em alguns personagens:

Bob esponja é um workaholic bobo alegre que chega a pagar pra trabalhar? Sim!! Mas qualquer um vê que o personagem é um imbecil!! Ou vocês acham que as crianças sonhavam em ser igual ao Patolino quando viam lonney Tunnes?

Sr. Sirigueijo é um capitalista sujo e ganancioso? Sim!! E todo mundo vê que ele é um babaca. Somente sendo muito tapado pra não ver como ele é retratado de forma negativa. No final de um episodio (excelente, por sinal) Sr. Sirigueijo perde metade de seu corpo (sabendo das conseqüências) para recuperar uma nota de um dólar – se isso não é mostrar como ser ganancioso é ridículo, não sei mais o que é...

Lula Molusco é um chato? Sim!! Mas ele é o vilão da trama? Não!! Como eu já disse, o desenho não se rende a maniqueísmos. Apesar de “ranheta”, ele esta longe de ser um vilão. Ele é só o “intelectual” chato que tem que suportar dois vizinhos bobos alegres...

Também tem muitos outros interessantes, como Sandy (uma esquilo psicótica) e Patrick (o rei dos imbecis), mas não é interessante falar deles nessa analise.

Agora, algumas perolas do autor da monografia (seguida de comentários meus):

Mono: (...) Propagandeando o capitalismo, esse sistema econômico sustenta sua própria existência. Não fosse assim, esse modo de produção que beneficia uma minoria enquanto mata de fome bilhões de pessoas em todo o mundo, jamais conseguiria manter as massas passivas diante de sua exploração. (...)
Eu: Cacete!! Bilhões de pessoas morreram e ninguém me avisou!! Malditos telejornais!!

Mono: (...)Hillenburg criou personagens marinhos amados pelas crianças, mas reproduziu neles os modos e os vícios dos seres humanos, e mesmo a vida de seus personagens embaixo d’água se passa como se estivessem em terra firme. (...)
Eu: Queria ver alguém assistir um desenho que tivesse uma esponja marinha "realista" como protagonista...

Mono: (...)Essa é uma das mais evidentes falsificações do desenho Bob Esponja (se referindo a Homem-sereia e Mexilhãozinho), em um mundo que se passa debaixo d’água, onde os personagens são animais marinhos, como peixes, siris, baleias e estrelas do mar; há também seres humanos, convivendo com os animais, que com eles falam e se relacionam (...)
Eu: tem um esquilo que mora embaixo d’água, a filha do Sr. Sirigueijo é uma baleia, o personagem central mora num abacaxi... e o cara acha estranho a convivência de animais marinhos com gente!!

Mono: (...)Patrick é um garoto aproximadamente da mesma idade de Bob Esponja, mas não freqüenta escola (Bob Esponja é aluno da escola de pilotagem da senhora Puff) e nem trabalha. Com certeza, não por coincidência, Patrick é o personagem da história que não tem um emprego, apesar de ser o melhor amigo de Bob Esponja. Ele não tem emprego para mostrar às crianças como as pessoas incapazes não conseguem boas colocações no mercado de trabalho (...)
Eu: Aqui o autor está correto!! Quem não tem qualificação não se emprega mesmo. E mais: Patrick é o marxista da história! é burro, não trabalha e ainda assim se acha mais esperto que o resto. Também é uma estrela (símbolo do PT) pra ser uma caricatura melhor, só se ele fosse vermelho!!

Conclusão:

- Bob Esponja é só a porra de um desenho, e o mundo agradeceria muito se os marxistas parassem de ver pelo em ovo.
- Adorno era um burguesinho de merda que falava mal do que o povo consome porque este não possuía o mesmo gosto que o seu (ele critica o Jazz como cultura alienante, se esquecendo que o Jazz surge na periferia negra – quer coisa menos "classe dominante" que isso?). Como todo marxista, escreveu mais sobre o capital do que trabalhou para obter algum.


Caso 2 – A esponja Homossexual e a burrice coletiva

Todo mundo sabe que o pobre Bob já foi acusado de passar “influencias homossexuais” nas nossas pobres crianças. Isso já é noticia velha.
Mas aconteceu algo que merece ser comentado em uma comunidade do orkut envolvendo o tema. Um membro da comunidade postou o seguinte tópico:

Bob esponja estimula a homossexualidade

O criador do Bob Esponja, Stephen Hillenburg, 43 anos, declarou que as alegações sobre o estímulo do personagem à homossexualidade realmente tem fundamento e que suas intenções ao criá-lo iam além da diversão e do entretenimento. Em entrevista à Reuters na sexta-feira, dois dias antes da estréia asiática de "Bob Esponja -- O Filme", em Cingapura:

"Sempre tivemos a intenção de que Bob Esponja e Patrick fossem gays.Desde o começo da série Bob Esponja traz um discurso "pró-homossexual".

Isso acaba com as dúvidas e prova que realmente Bob esponja, Patrick e toda sua turma são boyolas, e que todos que assistem também tem uma forte tendência a se aviadarem...”

Assim que li, minha primeira atitude foi procurar saber se isso era verdade. Não, não era. O cara apenas corrompeu a versão original da noticia. Curioso que sou, continuei lendo as postagens posteriores no tópico...
Foram poucos que notaram a fraude. Um outro leitor esperto (coisa rara) apontou que o autor do tópico é um membro da comunidade “Senhores do Caos”, que possui o intuito explicito de infernizar e gerar polemicas em outras comunidades; e ainda postou o link onde dito cujo conta aos amigos sobre a polemica que gerou. Mesmo depois de revelada a fraude, a discussão prosseguiu com centenas de postagens...

Minha intenção aqui não é discutir a boiolagem ou não do Bob Esponja. O foco é mostrar a propensão das pessoas a acreditarem em qualquer asneira que lêem, ouvem ou vêem. quase ninguém ali tentou ver se a noticia tinha procedência. Quando um o fez, a maioria o ignorou e continuou o “quebra-pau” (291 postagens até o momento O_o).
Não vou dizer que o cara que postou a mentira seja "inocente", mas se não fosse a “burrice coletiva” a coisa não renderia tanto. Mais do que vitimas do “fulano”, essas pessoas foram vitimas de seu próprio senso critico deficiente.
Embora pareça trivial, o caso da “esponja gay” é um exemplo clássico da tendência do ser humano aceitar facilmente ser feito de idiota...

PS1: Bob Esponja é um personagem assexuado (assim como as crianças). Ele foi adotado como símbolo pro movimentos gays, mas isso não é exatamente evidencia de boiolagem. Seu criador não é gay. Seus personagens não são gays. E mesmo que o fossem, duvido que alguém vira boiola ao ver desenho animado...

PS2: Confesso que uma parte de mim adorou a sacanagem que o membro do “senhores do caos” fez... Acho que uma das maiores tentações para pessoas um pouco mais espertas que a média é a de sacanear os outros. Felizmente, tenho mais a ver com o estilo do Super-homem dos quadrinhos (“você é melhor que o resto: faça por merecer”) do que a versão-esteriotipo do Super-homem de Nietzsche (“você é melhor que o resto: foda-se eles).

PS3: A versão postada pelo “caótico” ganhou força de meme, e é repetida continuamente internet afora...